31 Jan 2015 19:45
O novo filme de Jean-Luc Godard, "Adeus à Linguagem", ilustra a persistência do seu gosto pela experimentação, pela possibilidade de contar novas histórias e, sobretudo, de as contar de outra maneira. Vale a pena, por isso, recuarmos ao princípio simbólico de tudo isso. Que é como quem diz: aos tempos heróicos da Nova Vaga francesa e, mais concretamente, à primeira longa-metragem de Godard — "À Bout de Souffle", entre nós, "O Acossado".
Esta é a história de Michel, um pequeno escroque, e das confusões em que se envolve por causa de uma dívida por pagar. Para Godard, Michel não é especialmente importante como figura psicológica. O mais importante é o facto de ele surgir como uma espécie de personagem perdida de um velho policial de Hollywood. E para que tudo faça sentido, Michel apaixona-se por Patricia, uma americana que vende o Herald Tribune em plenos Campos Elíseos.
Michel é Jean-Paul Belmondo, então um actor em ascensão no panorama da produção francesa. Patricia é Jean Seberg, jovem actriz já consagrada pelo papel de Joana D’Arc, sob a direcção de Otto Preminger. Ao reuni-los, Godard criou um dos mais emblemáticos pares do cinema moderno — aquilo que os reúne é o acaso, o que os aproxima é o pressentimento da tragédia.
Para a história, "O Acossado" surgiu no mesmo ano, 1959, em que François Truffaut estreava "Os 400 Golpes" e Alain Resnais "Hiroshima Meu Amor". São três títulos que definiram, afinal, uma dinâmica criativa que iria alterar de forma radical o cinema, a maneira de filmar e as maneiras de pensar os filmes. Mais de meio século depois, este é um cinema já clássico, sempre moderno.