11 Fev 2016 23:42
Dois filmes recentes abordam a crise de 2008 de perspectivas tão diferentes quanto interessantes: primeiro surgiu "99 Casas", sobre as famílias americanas despejadas de suas casas; depois, "A Queda de Wall Street" (além do mais, um título em destaque na corrida para os Oscars). O mínimo que se pode dizer é que, directa ou indirectamente, este é um tema que tem assombrado a produção de Hollywood — tudo começou em 2011 com "O Dia Antes do Fim".
Grande parte das cenas de "O Dia Antes do Fim" decorre entre personagens que falam sobre dinheiro, muitas vezes frente a ecrãs de computador — por vezes parecem falar para o computador, como quem espera que do espaço virtual provenha uma explicação e, sobretudo, uma solução para o que estava a acontecer: é que não estavam a desaparecer alguns milhares de dólares, nem milhões, nem biliões — a catástrofe envolvia triliões.
O filme conta com um elenco de luxo que inclui Jeremy Irons, Zachary Quinto, Kevin Spacey, Paul Bettany, Demi Moore e Stanley Tucci. O mais espantoso é que tudo isto nos surge apresentado por J. C. Chandor, argumentista e realizador, não como uma paisagem abstracta de números, mas sim um complexo universo de relações humanas e, por vezes, desumanas.
"O Dia Antes do Fim" (título original: "Margin Call") foi a longa-metragem de estreia de J. C. Chandor. Depois, em 2013, assinou a epopeia marítima "Quando Tudo Está Perdido", com Robert Redford, e em 2014 o drama "Um Ano Muito Violento", com Jessica Chastain e Oscar Isaac. Ele é afinal, um notável narrador, dos mais brilhantes na actual paisagem de Hollywood.