26 Mai 2019 16:28
Eis uma insólita "tradição" dos grandes festivais de cinema: há sempre algum ou alguns filmes que, por circunstâncias logísticas, são ignorados. Assim aconteceu este ano, em Cannes, com "Sibyl", derradeiro título da secção competitiva. Trata-se de uma produção francesa assinada por Justine Triet, com duas excelentes interpretações de Virginie Efira e Adèle Exarchopoulos (nossa conhecida desde "A Vida de Adèle", Palma de Ouro de 2013).
Entenda-se: não terá sido uma obra-prima perdida no labirinto do festival… Não é essa a questão. Acontece que, com um misto de concisão dramática e elegância narrativa, "Sibyl" sabe recuperar um certo modelo psicológico do cinema francês que, por razões diversas, podemos associar às obras de cineastas como Claude Sautet (1924-2000) ou Claude Chabrol (1930-2010).
A permissa é muito sugestiva. Em cena está uma psicanalista, Sibyl (Efira), que decide diminuir o seu número de pacientes, de modo a dedicar-se à sua paixão da escrita e, mais concretamente, ao desenvolvimento de um romance. Entretanto, surge-lhe o desesperado pedido de auxílio de um jovem actriz, Madeleine (Exarchopoulos), envolvida numa violenta crise emocional…
A realização de Triet trabalha esse par Sibyl/Madeeleine como um surpreendente exercício de confronto com a verdade dos desejos e pulsões. E tanto mais quanto o jogo de máscaras que se instala se vai cruzando com os artifícios do filme que a própria actriz está a rodar. Em resumo: um filme francês que confirma que, com empenho e rigor, vale a pena regressar aos valores de um certo património narrativo.