22 Nov 2018 1:03
No panorama de títulos extra-competição proposto pelo LEFFEST, "The House That Jack Built", de Lars von Trier, será, por certo, o momento mais intenso — e, não tenhamos dúvidas, o mais capaz de promover insuperáveis clivagens entre os seus espectadores.
O filme surgiu como uma insólita pontuação na própria carreira internacional do cineasta dinamarquês, uma vez que, no passado mês de Maio, lhe permitiu regressar ao Festival de Cannes, extra-competição, depois do lamentável episódio que protagonizou na edição de 2011 [ver memória desse festival].
Seja como for, importa olhar para "The House That Jack Built" como… um filme — apenas um filme. E nessa perspectiva, paradoxalmente ou não, creio que importa também reconhecer que von Trier se mantém fiel ao seu mais radical cepticismo — o retrato de um "serial killer" (Matt Dillon) que quer fazer equivaler os seus crimes a uma forma de arte constitui, afinal, a meu ver, uma brilhante derivação da sua visão do Mal como uma entidade que contamina todas as zonas das relações humanas.
"The House That Jack Built" é mesmo um dos trabalhos mais ambiciosos, de uma só vez metódico e infinitamente detalhado, do cineasta de "Dancer in the Dark" (2000), "Dogville" (2003) ou "Anticristo" (2009) — podemos defini-lo como um novo capítulo de um sistema narrativo que devolve ao espectador a tarefa primordial de repensar os contrastes e contradições do ser humano.