François Truffaut e Jean-Pierre Cargol — aprendendo os rudimentos da linguagem humana

17 Mar 2016 17:21

A criança do filme "Quarto", de Lenny Abrahamson, é um ser humano que viveu enclausurado e que, por isso mesmo tem de aprender a linguagem do mundo à sua volta. Não há muitas histórias assim na própria história do cinema — mas vale a recordarmos um exemplo belíssimo: tem data de 1970 e chama-se "O Menino Selvagem".


Realizado por François Truffaut, "O Menino Selvagem" é um objecto algo solitário na sua filmografia, embora marcado por um dos seus temas obsessivos: a solidão da infância e a dificuldade de comunicação com os adultos. Com uma diferença que está longe de ser secundária: acontece que o protagonista é uma criança que viveu, como um selvagem, nos confins de uma floresta, até ser descoberto pelos seres humanos.



Esta história não é uma ficção mais ou menos delirante sobre as fronteiras do género humano: trata-se do caso verídico de uma criança encontrada numa floresta, em 1798, vivendo, de facto, em estado selvagem. Primeiro foi motivo de chacota, mas depois veio a ser protegida por um médico, Jean-Marc Gaspard Itard, que o iniciou na linguagem, nos sons, nas imagens, nas relações humanas — no filme, Itard é interpretado pelo próprio François Truffaut.

Na filmografia de Truffaut, "O Menino Selvagem" surgiu depois de "A Sereia do Mississipi" e antes de "Domicílio Conjugal". Apesar da sua importância temática e simbólica, hoje em dia, infelizmente, é um filme mais ou menos esquecido. Na sua época, foi um sucesso comercial e ganhou alguns prémios de prestígio — o Sindicato Francês dos Críticos de Cinema, por exemplo, escolheu-o como o melhor filme francês de 1970.

  • cinemaxeditor
  • 17 Mar 2016 17:21

+ conteúdos