Orson Welles no papel de Charles Foster Kane — nos primórdios da modernidade cinematográfica

25 Jul 2019 22:37

Mark Cousins é um crítico irlandês que se tornou internacionalmente conhecido através da sua magnífica “História do Cinema: Uma Odisseia” (2011), uma obra monumental de investigação e pensamento (aliás, editada entre nós em DVD). Com “Os Olhos de Orson Welles” (2018), Cousins partiu à descoberta do autor de “Citizen Kane”, tendo como base os muitos desenhos e pinturas que o próprio Welles foi fazendo ao longo de toda a sua vida — é um filme em forma de carta pessoal, perguntando se tudo se tratou de uma revelação ou uma maldição.

Em boa verdade, quando regressamos a Orson Welles (1915-1985), tudo se passa como se revisitássemos a própria gestação do cinema moderno — ou, se preferirem, da modernidade no cinema. Como todos os cinéfilos sabem, “Citizen Kane”, a primeira longa-metragem de Welles, lançada em 1941 (entre nós intitulada “O Mundo a Seus Pés”), é a história de Charles Foster Kane, um magnata dos jornais que morre pronunciando uma palavra mágica.


 
“Rosebud” — é a derradeira palavra de Kane, palavra que vai instalar o mistério e determinar todo o desenvolvimento do filme. Num certo sentido, trata-se de uma enigma policial que se vai transfigurando em tragédia íntima. Welles expunha os bastidores da imprensa e da política, ao mesmo tempo encenando uma saga pessoalíssima de solidão.

Orson Welles estreava-se, assim, com um filme que continuamos a reverenciar como um primeiro capítulo de um cinema em que as imagens e os sons já estavam muito para além de qualquer relação com o teatro, os seus espaços e tempos — era, realmente, uma nova linguagem em estado nascente. Quem se estreou também foi um compositor que viria a trabalhar com Alfred Hitchcock, François Truffaut e Martin Scorsese — chamava-se Bernard Herrmann (1911-1975). A sua música para “O Mundo a Seus Pés” é uma obra-prima dentro de uma obra-prima.

  • cinemaxeditor
  • 25 Jul 2019 22:37

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