15 Nov 2018 19:02

Na história mais recente da tradição realista britânica, os filmes de Mike Leigh (n. 1943) constituem um fundamental corpo de trabalho — pelo rigor do seu olhar, pela preocupação de dar conta das convulsões internas da sociedade. O que, entenda-se, não é incompatível com o interesse pelas mais diversas revisitações de passados mais ou menos remotos, como atesta o seu "Mr. Turner" (2014), dedicado ao pintor J.M.W. Turner (1775-1851).

A retrospectiva de Leigh este ano organizada pelo LEFFEST (16-25 Nov.) será uma excelente oportunidade para conhecer e reavaliar uma obra que, afinal, nunca desistiu de encenar as relações humanas, sempre em estreita relação com contextos sociais muito concretos. Assim acontece, por exemplo, em "Segredos e Mentiras", título que lhe valeu a Palma de Ouro de Cannes, na edição de 1996 — além do mais, o filme estará também disponível em reposição.



Digamos, para simplificar, que "Segredos e Mentiras" coloca em cena uma relação familiar que, durante muito tempo, se manteve recalcada: uma mulher negra encontra a sua mãe branca… Provavelmente, nas mãos de um cineasta convencional, daqui não resultaria mais do que uma visão ideologicamente formatada em que cada personagem se esgota numa banal função "simbólica". Ora, o cinema de Leigh é o contrário dessa formatação. Em boa verdade, cada personagem vive o drama de uma procura visceral: trata-se de saber o que significa pertencer a um determinado colectivo.
Tal como acontece no cinema de Stephen Frears, outro inglês da mesma geração, o olhar de Leigh não pode ser separado de um extremo cuidado na direcção dos seus actores. Assim acontece, uma vez mais, através do brilhante elenco de "Segredos e Mentiras" em que encontramos, entre outros, os nomes de Timothy Spall, Brenda Blethyn, Phyllis Logan, Marianne Jean-Baptiste e Claire Rushbrook — sem esquecer que, também em Cannes, Brenda Blethyn arrebatou o prémio de interpretação feminina.
  • cinemaxeditor
  • 15 Nov 2018 19:02

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