16 Nov 2014 19:57
Com o novo filme de Mathieu Amalric (e com Mathieu Amalric), "O Quarto Azul", redescobrimos uma exuberante tradição francesa. Que é como quem diz: as adaptações de obras de Georges Simenon (quer em cinema, quer em televisão). "O Último Comboio", precisamente, até pelo seu impacto na altura do respectivo lançamento, é um título emblemático de tal tradição.
O filme chama-se no original "Le Train" e inspira-se no romance homónimo de Simenon, publicado em 1961, tendo sido dirigido por Pierre Granier-Deferre. No centro dos acontecimentos está a relação entre um francês e uma mulher judia alemã — tudo se passa em meados de 1940, com ambos protagonistas a fugir (de comboio, precisamente) à invasão das tropas nazis.
Quando vemos ou revemos Jean-Louis Trintignant e Romy Schneider em "O Último Comboio", não podemos deixar de recordar que, nessa altura, a produção francesa possuía uma vasta galeria de intérpretes com prestígio muito para além das suas fronteiras. Mais do que isso: havia uma relação com os textos literários (Simenon e outros) que, embora não tenha desaparecido, hoje em dia parece muito mais fraca ou, pelo menos, mais irregular — nesta perspectiva, mesmo sem ser um título com estatuto de clássico, "O Último Comboio" constitui uma memória exemplar da produção francesa da década de 70.