5 Mar 2018 19:49
Será que o triunfo de "A Forma da Água" nos Oscars referentes à produção de 2017 indicia um revivalismo de uma certa ficção fantástica & poética? As convulsões do audiovisual contemporâneo não permitem grandes especulações, mas é um facto que o filme de Guillermo del Toro (quatro prémios, incluindo melhor filme e melhor realização) contém um sugestivo sinal — afinal, é possível fazer espectáculos mais ou menos artificiosos sem cair nas rotinas instaladas dos super-heróis.
Daí também, como é óbvio, a importância simbólica dos três prémios para o filme de Christopher Nolan, "Dunkirk" (mistura de som, montagem de som e montagem). Afinal de contas, Nolan continua a ser um dos poucos que consegue manter-se ligado a um modelo de produção de grandes meios, preservando também uma visão eminentemente pessoal.
Foram Oscars realmente plurais. E não apenas por causa dos temas da diversidade e integração que, naturalmente, tendo em conta as actuais convulsões ideológicas da América, marcaram muitos discursos da noite. Também porque a lista final de prémios serve de montra de uma indústria que, mesmo contaminada pela formatação comercial dos "blockbusters", mantém um admirável leque de possibilidades criativas.
Do ponto de vista estatístico, tal pluralidade é sugestiva. De facto, o filme mais premiado, "A Forma da Água", que tinha 13 nomeações, obteve apenas quatro estatuetas douradas, ficando muito distante do recorde de 11 Oscars que continua a pertencer a três títulos: "Ben-Hur" (1959), "Titanic" (1997) e "O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei" (2003).
Registe-se ainda a proeza da Netflix, obtendo o seu primeiro Oscar, na categoria de documentário, com "Icarus", de Bryan Fogel (denunciando esquemas de doping em várias actividades desportivas). E sublinhemos o conceito cenográfico do espectáculo, apelando a um fulgor visual algo primitivo que talvez simbolize, melhor que qualquer outro elemento, o vento de nostalgia que varre Hollywood, sonhando com os tempos em que não havia plataformas virtuais…