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Priscilla Presley sai da sombra
Perante a câmara de Sofia Coppola, é a voz desta mulher que se sobrepõe. Uma voz que se fez ouvir, inesperadamente, na conferência de imprensa de apresentação de "Priscilla".
04 Set 2023
Presente na primeira fila da conferência de imprensa do filme sobre a sua vida com Elvis, Priscilla Presley saiu da sombra e aceitou falar brevemente. “É muito difícil sentar-me e ver um filme sobre mim, sobre a minha vida, sobre o meu amor”, disse, com a voz cheia de emoção. “A Sofia Coppola fez um trabalho fantástico, fez o trabalho de casa. Dei tudo o que podia por ela” acrescentou, antes de abordar o casamento com Elvis.
Priscilla Beaulieu conheceu Elvis Presley em 1959, quando ela tinha apenas 14 anos e ele estava com saudades de casa, estacionado com o exército americano na Alemanha Ocidental.
“As pessoas pensam que foi o sexo. Não foi nada disso. Nunca tive relações sexuais com ele. Ele era muito simpático, muito carinhoso, mas respeitava o facto de eu ter apenas 14 anos.”
Elvis regressou aos Estados Unidos pouco tempo depois, mas os dois mantiveram-se em contacto e em 1963 ele convidou-a para ir viver com ele em Memphis, onde ela terminou a escola. Casaram-se em 1967.
“No início da minha relação com Elvis Presley foi muito difícil para os meus pais perceberem por que motivo ele era tão importante para mim. Era eu que estava lá para o confortar nos momentos difíceis, como a morte da mãe”, disse Priscilla Presley.
Em Graceland, a vasta propriedade onde viviam, teve de lidar com o séquito do Rei do Rock’n’Roll, o seu carácter obscuro e a sua dependência de drogas. O Rei fazia dela a sua boneca, escolhia-lhe os vestidos e mandava-a mudar a cor do cabelo.
Em 1968, tiveram uma filha, Lisa-Marie, mas isso não foi suficiente para selar a união, que terminou com a partida de Priscilla em 1973.
“Deixei-o, mas não porque já não o amasse. Ele era o amor da minha vida. O estilo de vida dele é que era demasiado difícil para mim, e acho que qualquer mulher consegue compreender isso”. Mesmo depois da separação, “continuámos muito, muito próximos e, claro, tínhamos a nossa filha e eu certificava-me de que ele a via sempre”, concluiu.
O olhar de Priscilla
Em “Priscilla”, o mito é visto pelos olhos desta mulher. A realizadora Sofia Coppola escolheu um ângulo que até agora permanecera oculto, para contar no grande ecrã os “altos e baixos” deste casal famoso.
Apresentado em competição no Festival de Veneza esta segunda-feira, tem por base o livro “Elvis and Me”, publicado em 1985, onde Priscilla Presley dá a sua versão da vida com Elvis.
“São um casal lendário, mas não sabemos muito sobre ela e o seu ponto de vista”, disse Sofia Coppola, que ganhou o Leão de Ouro em 2010 com “Somewhere – Algures”.
Questionada sobre se o seu filme era feminista, a realizadora de “Marie Antoinette” prefere vê-lo como “uma história humana” sobre “a evolução de uma jovem que acaba por partir para encontrar o seu lugar”.
O papel principal é interpretado pela americana Cailee Spaeny, enquanto o australiano Jacob Elordi, mais conhecido pelo seu papel na série “Euphoria”, interpreta Elvis.
Enquanto “Elvis” (2022), de Baz Luhrmann, se centra na relação de Elvis com o seu agente, Sofia Coppola privilegia o “ponto de vista de Priscilla”.
“Imaginei-me na sua história e tentei realmente fazer o filme do seu ponto de vista, para que pudéssemos viver a sua história ao lado dela”, resume. “É isso que adoro no cinema, a possibilidade de viver a história de outra pessoa que é tão diferente de nós”, explicou.
A cineasta também falou sobre como gostou de brincar com as paletas de cores, por exemplo, usando cores “mais vivas” quando o casal visita Las Vegas, e de pesquisar a banda sonora do filme, que mistura canções da época com outras mais contemporâneas.
Sofia Coppola e os seus atores são uma exceção na Mostra, que está privada das estrelas americanas devido à greve dos atores que continua a decorrer em Hollywood.
“Estou aqui como realizadora e produtora para apoiar o cinema independente e a minha equipa, e apoio totalmente o trabalho árduo dos sindicatos que lutam por salários justos”, disse. “Espero que possamos encontrar uma solução em breve (…) Todos queremos voltar ao trabalho”.