

Realizadores de ERA UMA VEZ EM GAZA: Cannes oferece uma plataforma necessária
O filme dos gémeos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, que tem coprodução portuguesa, retrata a vida sob o domínio do Hamas e reflecte sobre a destruição de Gaza. A personagem principal simboliza as oportunidades limitadas dos seus habitantes.
A decisão de incluir um filme passado em Gaza na seleção oficial do Festival de Cinema de Cannes surge num momento particularmente urgente para o pequeno enclave costeiro, afirmam os cineastas gémeos palestinianos Arab e Tarzan Nasser.
“É necessário dar voz à Palestina, à história palestiniana, à história de Gaza, num festival internacional como o Festival de Cannes, com uma vasta audiência de todo o mundo”, disse Arab Nasser à Reuters na terça-feira.
O filme dos irmãos, “Era uma vez em Gaza”, co-produção com a portuguesa Ukbar Filmes, concorre na secção Un Certain Regard e estreou no festival no sul de França na segunda-feira.
Os trabalhos anteriores dos irmãos Nasser incluem “Condom Lead”, a primeira curta-metragem palestiniana a competir em Cannes em 2013, bem como a sua primeira longa-metragem de 2015 “Degrade” e “Gaza Mon Amour” de 2020.
“Once Upon A Time in Gaza” começa em 2007, ano em que o grupo islamita Hamas tomou o controlo de Gaza, com o traficante de droga Osama (Majd Eid) a gerir uma banca de falafel que serve de fachada. O seu subalterno Yahya (Nader Abd Alhay) toma conta do restaurante e anseia por uma vida melhor fora de Gaza.
Depois de um incidente com um polícia corrupto, a história avança para 2009, quando o Hamas já assumiu o controlo total, e Yahya é escolhido para participar numa série televisiva de fraca qualidade, encomendada pelo grupo, sobre um militante que morreu como herói na luta contra Israel.
Yahya é suposto simbolizar toda uma geração de habitantes de Gaza que ficaram presos no enclave costeiro com poucas perspetivas, disse Tarzan Nasser.
“Talvez a sua sorte tivesse mudado se Israel o tivesse deixado sair da Faixa de Gaza”, disse o realizador, que, com o irmão, está exilado na Jordânia há mais de uma década.
O título do filme pretende captar o ritmo da Faixa de Gaza de então, onde não há estabilidade nem continuidade.
Mas adquiriu um significado diferente após o ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023, que matou 1200 pessoas no sul de Israel e fez 251 reféns. Esse ataque desencadeou a campanha de Israel que, até à data, matou mais de 50 mil palestinianos e devastou Gaza.
Agora “referimo-nos a toda a Gaza como ‘era uma vez’, porque Israel destruiu Gaza de norte a sul e danificou todos os meios de vida”, acrescentou.
“Todas as recordações, todos os incidentes que se têm na memória deste lugar, desapareceram, Israel destruiu-o completamente.”