7 Mar 2020 16:34
Jean Seberg, tal como retratada por Kristen Stewart no filme “Seberg”, é a imagem de quem anda, realmente, à deriva, sem saber como gerir a sua carreira. O certo é que, ao longo da sua filmografia, deparamos com obras excepcionais a que ela empresta um fulgor muito especial. Além do mais, estamos perante um caso precoce de talento: em 1957, estava ela à beira de completar 19 anos, surgia no papel de Joana d’Arc num filme "Santa Joana", de Otto Preminger.
Logo depois, ainda sob a direcção de Preminger, Jean Seberg fez “Bonjour Tristesse”, a partir do romance homónimo de Françoise Sagan. Em todo o caso, seria um dos filmes fundadores da Nova Vaga francesa a conferir-lhe uma dimensão mítica. O filme chamava-se (aliás, chama-se) “À Bout de Souffle”, entre nós apelidado “O Acossado” — com a música lendária de Martial Solal.
É bem verdade que, a partir de certa altura, a carreira de Jean Seberg seria feita de altos e baixos, muitas vezes cedendo a escolhas de duvidosa qualidade. Seja como for, ela está no centro de uma das obras-primas absolutas do cinema americano da década de 60, realizada por Robert Rossen e intitulada “Lilith” (na versão portuguesa, “Lilith e o seu Destino”). Interpretando uma mulher na corda bamba entre a razão e a loucura, Jean Seberg empresta vida a alguém que, como ela diz, “quer deixar a marca do seu desejo em todos os seres vivos”.
Para lá dos dramas da sua vida pessoal, Jean Seberg (falecida em 1979, contava 40 anos) acabou por ser um sintoma dos ziguezagues de produção de Hollywood ao longo dos anos 60/70, a ponto de ter participado num “western” musical, bizarro, desconcertante e, em vários aspectos, fascinante. Deram-lhe um esclarecedor título português: “Os Maridos de Elizabeth”. No original chama-se “Paint Your Wagon”, foi realizado por um nome grande da Broadway, Joshua Logan, com Jean Seberg a contracenar com Lee Marvin e Clint Eastwood. Lee Marvin ava mesmo uma canção que, na altura, 1969, foi muito popular — chama-se “Wand’rin Star”.