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SING SING: o teatro como redenção
Inspirado num programa de reabilitação através das artes, “Sing Sing”, de Greg Kwedar, acompanha a história de homens encarcerados que encontram no teatro um novo propósito. Nomeado para três Óscares, incluindo melhor ator para Colman Domingo, o filme reflete uma realidade que encontra eco em Portugal, onde projetos semelhantes dão esperança aos reclusos.
06 Fev 2025
“Sing Sing”, do realizador Greg Kwedar, parte de um programa desenvolvido para levar o teatro a uma prisão de alta segurança dos Estados Unidos.
Divine G (Colman Domingo), encarcerado na prisão de Sing Sing por um crime que não cometeu, encontra um objetivo ao atuar num grupo de teatro com outros homens detidos, incluindo um recém-chegado (Clarence Maclin, que se interpreta a si próprio).
O papel valeu a Colman Domingo a nomeação para o Oscar de melhor ator, uma de três nomeações conseguidas pelo filme que também marca presença nas categorias de melhor canção original e melhor argumento adaptado.
A ideia para o filme começou a germinar na cabeça do realizador em março de 2016, quando ajudava um amigo a produzir um documentário numa prisão de segurança máxima. Enquanto passavam pelos corredores, Kwedar viu um homem na sua cela a tomar conta de um cão, parte de um programa existente em várias prisões que junta cães resgatados a pessoas encarceradas.
“É um programa de reabilitação tanto para os animais como para os homens”, recorda Kwedar.
Aquilo que viu levou-o a investigar programas similares. Foi assim que conheceu a “Reabilitação através das Artes”, também conhecido como RTA, que encenava peças de teatro no estabelecimento prisional de Sing Sing.
Kenwar ficou impressionado com os resultados. Nos EUA, a taxa de pessoas que regressam à prisão após o encarceramento era superior a 60%. Entre os diplomados da RTA, a taxa era inferior a 5%.
Através do contacto com a RTA, descobriu o processo de escrita colaborativa envolvendo presos e encenadores e as pessoas envolvidas no programa. Com Clint Bentley, colaborador habitual e antigo colega na escola de cinema, Greg Kenwar deu início à escrita do argumento do que viria a tornar-se “Sing Sing”.
“Escrevemos muitas versões deste filme”, admite Kwedar. “Precisávamos de encontrar uma forma autêntica de contar esta história de amizade”.
Conheceram John Whitfield e Clarence Maclin, antigos participantes no programa da RTA. Whitfield, que estudou dança e representação nos anos 1970, foi condenado por um homicídio que não cometeu. Na prisão, escreveu três livros e foi um dos primeiros a participar no programa de reabilitação através das artes.
Maclin teve uma trajetória diferente, era um dos homens mais temidos de Sing Sing. Violento, extorquía dinheiro a elementos da população prisional e vendia drogas dentro da prisão. Envolveu-se na RTA por mero acaso, mas acabou por ficar. Hoje, trabalha como consultor e embaixador do programa.
Os cineastas acabaram por construíram o argumento de “Sing Sing” em redor destas duas personagens magnéticas e carismáticas que também colaboraram na escrita, dando a sua experiência para garantir a autenticidade dos diálogos e das situações.
No filme, Maclin interpreta a sua própria vida e outros antigos participantes no programa também aparecem no elenco ao lado de Coleman Domingo. Determinados a incluir as pessoas que realmente viveram aquela história, Kenwar e Bentley dizem que foi mais do que “uma escolha filosófica”, para eles é o reconhecimento do imenso talento encontrado nos antigos alunos da RTA.
O teatro nas prisões em Portugal
Em Portugal, o estabelecimento prisional do Linhó, no concelho de Cascais, tem um projeto idêntico ao que é mostrado no filme. A atriz Flávia Gusmão é a coordenadora e encontra semelhanças com a história que viu em “Sing Sing”:
É um projeto feito em parceria com o Teatro Experimental de Cascais e a Câmara Municipal de Cascais. O estabelecimento prisional do Linhó aceitou ser parceiro.
Em 2024, os reclusos prepararam “À Espera de Godot”, a peça de Samuel Beckett que tem sido objeto de adaptação por detidos noutros países:
Claro que eles se sentiram identificados quando começamos a ler a peça, porque, se há alguém que sabe o que é estar à espera, são, efetivamente, essas pessoas. Esse ponto de partida da identificação, acho que funcionou para quererem fazer a versão deles. Correu muito bem, acho que estamos todos muito contentes.
O teatro é apenas um de vários programas ligados às artes que funcionam no Linhó:
Tem o programa de dança, há muitos anos, com a Catarina Câmara, da Companhia Olga Flores, que está lá há muitos anos e faz um trabalho incrível, a meu ver. Aliás, alguns dos participantes que estão a fazer o projeto de teatro comigo já integram o projeto dela.
Flávia Gusmão acredita que a arte pode ser libertadora, capaz de ajudar na reabilitação e espera ter a oportunidade de continuar a levar o teatro às prisões:
É uma mais-valia para quem está dentro de uma prisão, porque o espaço da arte, é um espaço de liberdade. E continua a sê-lo, mesmo nessas condições.