George Clooney — um drama vivido no interior das convulsões do Médio Oriente

28 Mar 2020 19:47

De vez em quando, há filmes capazes de nos fazerem sentir a dimensão mais radical da vida humana, da arte de viver e sobreviver. Assim é “Para Sama”, em que seguimos o relato de Waad Al-Kateab, vivendo e sobrevivendo, precisamente, na cidade de Alepo, na Síria, narrando uma experiência extrema, partilhada com o marido e a filha, a pequena Sama. São histórias de um Médio Oriente marcado por tensões e conflitos que os anos parecem não cicatrizar.

A propósito, vale a pena recordar “Syriana”. Lançado em 2005, não é, longe disso, um filme apenas sobre a Síria. Nele se reflectem os equilíbrios instáveis de todo o Médio Oriente, através da acção de um conjunto de personagens directa ou indirectamente marcadas por problemas que vão desde o tráfico de armas até à corrupção na circulação de grandes quantidades de petróleo. Para o realizador Stephen Gaghan, tratava-se de construir uma ficção que preservasse a sensação de urgência e, nessa medida, um certo espírito documental.


“Syriana” oscila entre o drama intimista e a parábola moral sobre a corrupção. Nessa medida, é um objecto que escapa aos rótulos correntes de policial, “thriller” ou filme de espionagem. O seu poder decorre da capacidade de nos expor factos que estamos habituados a ver perdidos na velocidade de informação, esquecendo que no interior de tais factos há gente a viver, gente a morrrer — esse sentimento paradoxal passa de modo exemplar pela música de Alexandre Desplat.


“Syriana” não seria possível sem o contributo de dois nomes grandes do cinema americano, aqui associados na produção: Steven Soderbergh e George Clooney. No caso de Clooney, com uma dupla função, uma vez que ele surge também como actor — a sua performance valeu-lhe mesmo o Oscar de melhor actor secundário. Interpretando um veterano da CIA, Clooney é a imagem exemplar de um espírito de desencanto em que tudo parece transparente e tudo pode ser uma máscara. Na banda sonora, a canção “Wasp Nest” (à letra: “Ninho de vespas”) surge como a perfeita encarnação de tal desencanto; canta Matt Berninger, ou seja, este é o som de The National.

  • cinemaxeditor
  • 28 Mar 2020 19:47

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