2 Set 2022 21:14
O Festival de Veneza sucumbiu ao magnetismo do actor franco-americano Timothée Chalamet que interpreta o protagonista perturbador de um road movie sobre canibais ambientado no coração da América dos anos 80.
Os fãs saudaram a estrela na chegada ao Lido, onde veio defender as cores de "Bones and All", em competição pelo Leão de Ouro e assinado pelo italiano Luca Guadagnino, o mesmo que fez de Chalamet uma estrela com "Chama-me pelo teu nome".
Cinco anos depois, o actor de 26 anos rompe com a sua imagem suave imagem e empresta o seu rosto angelical a Lee, um vagabundo que embarca numa odisseia com Maren, um casal que partilha um apetite irreprimível por carne humana.
É a história de "dois jovens muito isolados, que ainda não têm uma verdadeira identidade e se afirmam através do amor", resumiu Chalamet na conferência de imprensa, confessando que estava "morto por trabalhar com Luca" Guadagnino novamente.
"Ser jovem hoje (…) significa ser julgado o tempo todo. Não consigo imaginar o que é crescer sob a faca das redes sociais. Foi um alívio representar personagens a lutar com os seus dilemas sem terem de ir ao Reddit, ao Twitter ou TikTok para ver como se encaixam na sociedade", observou Chalamet, agora frequentador regular do Lido, onde apareceu no ano passado no blockbuster "Dune", de Denis Villeneuve.
A personagem de Maren é representada pela actriz canadiana Taylor Russell, mais conhecida pelos papéis nas séries "Strange Empire" e "Falling Skies".
Os dois protagonistas conduzem uma pick-up azul e Ronald Reagan está na Casa Branca, mas não é isso que importa: esta enésima variação do casal infernal evolui numa zona eterna, a do Midwest assombrada por aqueles que ficaram para trás pelo sonho americano.
No decurso da viagem, Lee e Maren tentam compreender a sua diferença e aprender a viver com ela, não sem alguns soluços violentos que dão origem a cenas sangrentas onde os vemos a devorar corpos acabados de morrer.
"Há algo naqueles que vivem à margem da sociedade que me atrai. Adoro estas personagens", explicou Luca Guadagnino. "Interessam-me as suas viagens emocionais.
"Vejo este filme como uma meditação sobre o que somos e como podemos ultrapassar o que somos, especialmente se for algo que não podemos controlar", salientou o realizador, que optou por adaptar o romance homónimo de Camille DeAngelis.
Para além da análise das fontes psicológicas que acompanham a busca de si próprio nestas duas pessoas marginalizadas, "Bones and all" desperta um mal-estar quase físico no espectador, não tanto ao mostrar cenas insuportáveis, mas por tornar a violação de um tabu universal terrivelmente sedutora.
Guadagnino deixa a sua câmara vaguear por paisagens grandiosas de conto de fadas onde as suas personagens parecem ser apenas sombras fugazes destinadas a serem devoradas pelo seu destino. Uma espécie de conto infantil onde os ogres são também seres de carne e osso a tremer de realismo. A este respeito, o desempenho arrepiante de uma irreconhecível Chloë Sevigny no papel da mãe de Maren também merece ser recordado.