3 Out 2018 14:20
Vendo um filme actual, tão estranho, e também tão sedutor, como “Agora Estamos Sozinhos”, de Reed Morano, não podemos deixar de reconhecer que a sua estranheza e sedução são componentes muito enraizadas na história da ficção científica. E se quisermos encontrar uma referência, por certo das mais estranhas, podemos recuar até 1974 e lembrar o bizarro, enigmático e, afinal, inclassificável “Zardoz”.
O trailer original apresentava “Zardoz” através da evocação de algumas datas emblemáticas da ficção científica: “Para além de 1984, para além de 2001…” E acrescentava: “Para além do amor, para além da morte…” Isto porque tudo acontecia num universo futurista (mais exactamente no ano 2293), quando uma tribo comandada por uma divindade de nome Zardoz tem o poder de gerar seres imortais.
O mundo de Zardoz é uma paisagem assombrada: funciona como uma ditadura construída em nome da sobrevivência, nessa medida contrariando a possibilidade de qualquer relação verdadeiramente humana. E há um herói imaculado para lidar com tudo isso — na altura, o seu intérprete era mais conhecido como James Bond, tinha surgido recentemente em “Os Diamantes São Eternos”: é verdade, estamos a falar de Sean Connery.
Para além de Sean Connery, importa lembrar outro nome fundamental na concepção de “Zardoz”, e tanto mais quanto ele surge na tripla condição de argumentista, produtor e realizador: John Boorman, o inglês que se afirmara em Hollywood através de títulos tão inovadores como “À Queima Roupa” (1967) ou “Fim de Semana Alucinante” (1972). A sua imaginação criativa levava-o mesmo a terminar “Zardoz” com uma sequência apocalíptica pontuada pela música de Beethoven, mais exactamente com o 2º andamento, Allegretto, da Sinfonia nº 7.