

EDDINGTON: a América à beira da rutura
Na conferência de imprensa que se seguiu à projeção do filme no Festival de Cannes, o protagonista Pedro Pascal afirmou que o cinema não deve ceder à intimidação de figuras autoritária se encorajou a liberdade de expressão e a crítica.
Pedro Pascal é o protagonista do filme de Ari Aster apresentado sábado na competição do Festival de Cannes. Em conferência de imprensa, o ator diz que o cinema não deve ser intimidado por Trump.
Não devemos ter medo de criticar Donald Trump, disse o ator chileno-americano Pedro Pascal em Cannes no sábado. A estrela de “The Last of Us” e “Narcos” esteve em Cannes para apresentar “Eddington”, um neo-western no coração de uma América à beira do colapso, realizado por Ari Aster.
Pascal interpreta o presidente de câmara de uma pequena cidade do Novo México que faz campanha contra um xerife sem sorte, interpretado por Joaquin Phoenix. As tensões estão a ferver devido às políticas de uso de máscaras durante a pandemia de COVID-19 e aos protestos contra o racismo.
O filme que traça o retrato satírico de uma América dilacerada por teorias da conspiração, violência e conflitos raciais, foi imaginado antes do regresso de Donald Trump ao poder.
“Que se lixem os que estão a tentar assustar-vos!”, desafiou o ator de 50 anos. “O medo é a forma de eles vencerem, para começar. Por isso, continuem a contar as histórias, continuem a exprimir-se e continuem a lutar para serem quem são”, disse o ator chileno aos jornalistas no Festival de Cannes, no dia seguinte à estreia do filme.
Questionado sobre as políticas migratórias de Donald Trump, o Pascal partilhou a experiência da sua família, refugiada do Chile. “Quero que as pessoas estejam seguras e protegidas. Também quero viver do lado certo da história. Sou um imigrante, os meus pais são refugiados chilenos, eu também sou um refugiado”, disse. “Fugimos de uma ditadura e tive o privilégio de crescer nos Estados Unidos, depois de ter encontrado asilo na Dinamarca. Se não tivesse sido assim, não sei o que teria sido de nós. Por isso, serei sempre a favor destas proteções”, continuou.
Aster, que ficou famoso com os filmes de terror “Hereditário” e “Midsommar”, disse querer captar o que os EUA sentiram durante a pandemia.
“Para mim, o filme é sobre o que acontece quando as pessoas estão tão isoladas e vivem nas suas próprias realidades, algo que acontece quando entram em conflito umas com as outras”, explicou Aster. “Quando começam a chocar umas com as outras, cria-se uma nova lógica e, a partir daí, as pessoas começam a amplificar os medos umas das outras.”
O realizador explicou também como começou o projeto: “Escrevi este filme num estado de medo e ansiedade em relação ao mundo”, disse. “Queria tentar recuar e apenas descrever e mostrar como é viver num mundo onde já ninguém consegue chegar a acordo sobre o que é real.”
Aster sente que nas últimas décadas “caímos nesta era de hiper-individualismo” e queixa-se do desaparecimento da “força social que costumava ser central nas democracias de massa liberais”.
“A Covid foi o momento em que esse comprimento foi finalmente cortado para sempre”, concluiu Aster.