10 Abr 2014 3:08
O festival de Cannes
prima por manter uma relação constante com os “seus” autores e basta
seguir o rasto de algumas produções concluídas para perceber quem deve
marcar presença na seleção 2014.
É desde já aguardado o regresso dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne com “Deux Jours Une Nuit”, onde dirigem a estrela do cinema francês Marion Cotillard no papel de uma mulher que procura manter o emprego convencendo os colegas a abdicarem das bonificações. Todos os seus cinco filmes anteriores desde “Rosetta” (1999) estiveram em competição e os Dardenne pertencem ao grupo restrito de realizadores que ganharam duas Palmas de Ouro (“Rosetta” e “A Criança”).
Ken Loach também pertence ao grupo de cineastas altamente respeitados em Cannes (ganhou uma Palma de Ouro com “Brisa de Mudança” e apresentou 16 filmes no festival). O realizador britânico anunciou que “Jimmy Fall” é o seu último filme ficcionado, o que tornará emocionalmete relevante a sua presença.
Na competição desde ano não será surpreendente se Ken Loach competir com outro mestre do realiasmo britânico – trata-se de Mike Leight que já filmou “Mr. Turner“ (biopic sobre o pintor neoclássico JMW Turner), com Timothy Spall. Leight poderá regressar a uma competição onde apresentou quatro filmes e que o consagrou com “Segredos e Mentiras” (Palma de Ouro) e “Nu” (prémio de realização).
O regresso de Apichatpong Weerasethakul é quase certo quatro anos após ter recebido a Plma de Ouro com sido premiado com a Palma de Ouro com “O Tio Boonmee Que se Lembra das Suas Vidas Anteriores”. O realizador tailandês concluiu a rodagem de “Cemitery of Kings”, uma nova fábula surreal.
A galeria de cinestas consagrados com a Palma de Ouro poderá ficar completa com a seleção do mais recente filme de Emir Kusturica. “On The Milky Road” é a sua primeira ficção em sete anos e marcaria o regresso de um realizador que ganhou por duas vezes a Palma com “Undergound” e “O Pai Foi em Viagem de Negócios”. No entanto as recentes declarações controversas de apoio à ação de Vladimir Putin na Crimeia podem limitar as suas possibilidades…
David Cronenberg é uma presença regular em Cannes onde esteve na competição por quatro vezes (ganhou o prémio do júri com “Crash” e mais recententemente apresentou “Cosmopolis”). Em “Maps to the Stars“, uma história distorcida sobre Holywood, voltou a dirigir Robert Pattinson.
O ator Tommy Lee Jones pode regressar com “The Homesman“, o segundo filme que realiza. A sua estreia na realização com “Três Enterros de Melquiades Estrada” foi acolhida na competição de Cannes.
Seguindo essa lógica de apadrinhar estreias de atores na realização não surprenderia que a primeira longa-metragem dirigida por Ryan Gosling surgisse em competição. A fábula “How To Catch A Monster” marcaria o regresso do ator numa posição diferente depois ter sido um dos talentos em destaque nas duas edições anteriores pelos papéis em “Drive – Risco Duplo” e “Só Deus Perdoa”.
O festival deverá reservar uma sessão especial, eventualmente fora de competição, para “Welcome To New York” de Abel Ferrara, com Gerard Depardieu. O realizador só esteve uma vez na competição de Cannes e normalmente prefere apresentar os seus filmes em Veneza. Mas este filme aborda o escândalo protagonizado por Dominique Strauss-Kahn, e o festival de Cannes não quererá perder a oportunidade de explorar o tema.
Os franceses e outros autores aguardados
Na competição há sempre lugar para quatro produções de autores franceses. Entre os cineastas gauleses destaca-se a possível presença do ator Mathieu Amalric com o thriller “The Blue Room”, o segundo filme que realiza (ganhou prémio de realização com “Tourné”). Trata-se de uma produção de Paulo Branco que adapta uma obra com imensa intensidade sexual do escritor George Simenon.
O festival não deverá excluir “Clouds of Sils Maria” (com Juliette Binoche e Chloe Moretz), o primeiro filme em língua inglesa de Olivier Assayas, um realizador que competiu três vezes em Cannes.
Michel Hazavanicius foi a sensação do festival de 2011 quando apresentou o “O Artista”. O seu regresso é muito provável com “The Search”, onde dirige, novamente, Bérénice Bejo. É um remake de um filme de guerra de Fred Zinnemann, adaptado ao contexto atual do conflito na Chechênia.
“Saint Laurent”, o biopic não autorizado sobre o estilista Yves Saint Laurent, é um filme obrigatório no alinhamento de Cannes mas a sua estreia prevista para maio em França foi adiada, o que suscita dúvidas sobre a possiblidade estar concluído a tempo de ser exibido no festival. O realizador Bertrand Bonello tem presença discreta em Cannes, onde mostrou “Apollonide: Memórias de um Bordel” e “Tiresia”.
“Birdman” poderá marcar o regresso de Alejandro Gonzalez Iñarritu. Três dos seus quatro filmes estiveram na competição do festival (“Amores Perros“, “Babel” e “Biutiful) e se for selecionanado levará consigo um elenco vistoso (Michael Keaton, Emma Stone, Naomi Watts, Edward Norton e Zach Galafianakis).
Finalmente, parece lógico que Woody Allen regresse à Croisette com “Magic In The Moonlight”, já que a comédia de época, com Colin Firth e Emma Stone, foi rodada na Riviera francesa. Em anos recentes o realizador estreou quatro dos seus filmes europeus mais aplaudidos no festival (“Match Point”, “Vicky Christina Barcelona“, “Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos” e “Meia-noite em Paris”).
O festival acolherá de braços abertos os mais recentes filmes de realizadores que marcaram presença regular ou em edições recentes. O musical “Jersey Boy” de Clint Eastwood (esteve presente em Cannes com “Mistyc River” e “A Dúvida”), “Big Eyes” de Tim Burton, “Everything Will Be Fine” de Wim Wenders, “Knight of Cups”, de Terence Malick (ganhou a Palma de Ouro há três anos com “A Árvore da Vida”), e “Inherent Vice” de Paul Thomas Anderson.
O festival anunciará a seleção oficial no dia 17 de abril. A 67ª edição decorrerá entre 14 e 25 de maio e abrirá com antestreia mundial de “Grace do Mónaco”, com Nicole Kidman.