16 Abr 2014 20:26
Durante mais de uma década, o diretor de fotografia Wally Pfister deu vida às visões cinematográficas do realizador Christopher Nolan. Agora, foi chamando ao papel principal.
A sua estreia como realizador, no thriller de ficção-científica "Transcendence" contém muitos elementos que encontramos nos sucessos de Nolan – efeitos visuais de fazer arregalar os olhos, uma história complexa e um protagonista de primeira linha, Johnny Depp. Tudo se traduz em expectativas para Pfister que, a brincar, compara o seu batismo recente na cadeira de realizador como uma condenação à "cadeira elétrica".
No filme, que estreia em Portugal a 1 de maio, a mente de Will Caster (Depp), um cientista com uma doença terminal, é carregada num computador após a sua morte, gerando uma máquina assustadora e incontrolável.
No centro da história está o relacionamento interrompido entre Will e a sua esposa, Evelyn, interpretada por Rebecca Hall. "Transcendence", que teve produção-excutiva de Nolan e foi escrito pelo estreante Jack Paglen, cativou Pfister devido ao peso emocional colocado no estudo da vida de marido e mulher no meio da dependência crescente da tecnologia. "Começamos a imaginar para onde tudo está a ir", diz ele.
"Estamos dependentes de tecnologia. Ela agarrou-nos", afirmou Depp numa recente entrevista conjunta para promover o filme. Depp conheceu Pfister em 2012, quando trabalhou no vídeo da balada romântica "My Valentine", de Paul McCartney, onde Depp foi protagonista, com Natalie Portman, e onde Pfister foi o diretor de fotografia.
"Fiquei imediatamente intrigado e curioso a partir da leitura inicial", diz Depp de "Transcendence". "Tantas coisas vêm à minha mente, tantas quanto os perigos da tecnologia. Digamos que estou de repente a segurar uma arma", ilustra Depp levantando a mão esquerda onde brilha o seu anel de noivado com Amber Heard. "A arma não é intrinsecamente má. É apenas uma ferramenta. É o que fazemos com ela que a torna má. Creio que a mesma coisa se passa com a tecnologia".
Quando chegou a altura de escolher o seu primeiro filme como realizador, Pfister, que trabalhou em tudo, desde " Memento" até "O Cavaleiro das Trevas", hesitou antes de pegar num grande filme de ação.
"Eu fiz um monte de coisas como cineasta", afirma. "O que era importante era contar algum tipo de história onde as personagens fossem o mais importante. E explorar a emoção humana.
Nolan também se prepara para lançar um filme de ficção-científica capaz de fazer pensar: "Interstellar", sobre a possibilidade de viajar no tempo, estreia em novembro. Mas Pfister assegura que não está a competir com o seu colaborador de longa data.
"O Chris é um velho amigo", diz, "Apoiou-me imenso na minha mudança para a realização". Os dois cineastas até partilharam a mesma equipa, incluindo o pessoal da caracterização, efeitos especiais, equipamento, casting e montagem. Mas enquanto "Transcendence" estava a ser filmado, Nolan manteve-se afastado.
"O Chris nunca apareceu", refere o operador de câmera Scott Sakamoto, que trabalhou nos dois filmes, "creio que o Chris quis deixar o Wally com as rédeas na mão para ver somo ele se saia".
Apesar de "Transcendence" marcar uma nova fase na carreira de Pfister, ele lidou com a tarefa com a ligeireza de um veterano. "Ele é um cineasta experiente", diz Depp. "Mas existem alturas em que olhas para uma situação com um realizador novato e não sabes o que se vai passar. Mas nunca surgiram tropeções".
O Will interpretado por Depp é uma pessoa calorosa, ambiciosa e perspicaz. Mas aventura-se em território perigoso quando a sua mente é carregada para um sistema operativo que está ligado à Internet. Depressa desenvolve capacidades que conduzem a resultados catastróficos.
"Temos de pensar se se trata apenas de uma máquina sem alma", interroga-se Pfister. "Se carregarmos uma mente num computador, será que continua a ser senciente e, se assim é, será que esse facto afeta os processos de decisão da máquina?"
No que diz respeito ao Johnny, queremos saber se a personagem ainda está viva. Adoramos o Johnny. A personagem Will Caster não funciona sem um ser poderoso e emocional por trás. Precisamos de alguém que nos apaixone."
Depp aceitou o papel assim que soube que seria Pfister a realizar."Criámos uma ligação e sabia da enorme quantidade de horas de set que este homem já tinha tido", diz Depp, acrescentando que Pfister é apaixonado pelo que faz e que estava mais do que preparado quando ele chegou ao local das filmagens.
Pfister também criou uma atmosfera onde todos tinham liberdade para dizer "Então e isto?", acrescenta Depp. "É algo raro no cinema dos dias de hoje. Tem tudo a ver com o produto final e o resultado".
O Johnny contribuiu com algum diálogo e pegou neste projeto como se também fosse um bebé dele", diz Pfister. "É esse o tipo de colaboração que sempre desejei e provavelmente a razão pela qual me dediquei à realização – para colaborar com os outros."