19 Mai 2014 20:37
Quando usamos a palavra "Hollywood", nesta segunda década do século XXI, que queremos dizer? Que lugar ou identidade identificamos através de tal palavra?
A resposta implícita no filme "Maps to the Stars" (o título evoca os mapas de Los Angeles que dão a conhecer trajectos turísticos para conhecer as casas de gente célebre) é esta: Hollywood é apenas o fantasma, delirante e letal, da sua própria glória.
Hollywood, de facto, já não é o que era — quem o diz é David Cronenberg, meticuloso e contundente, minimalista e genial, num filme que começa num brilhante argumento de Bruce Wagner. Em cena está, afinal, uma colisão de gerações: de um lado, os filhos como o patético e inquietante Benji (Evan Bird), estrela mimada de 13 anos; do outro, os adultos como a frágil e histérica Havana (Julianne Moore), carpindo as mágoas da fama que não se renova…
Prolongando uma lógica que já se pressentia no anterior "Cosmopolis" (2012), Cronenberg sublinha as intensidades realistas dos gestos, corpos e objectos, ao mesmo tempo que integra as cenas mais oníricas como um apêndice "natural" de um mundo ferido — um mundo em que se perdeu, porventura definitivamente, a capacidade de apropriação do real.
"Maps to the Stars" é um filme seco, austero, alheio a qualquer gratificação redentora, um desses objectos que nos fazem sentir o cinema como máquina de discussão da própria percepção das existências humanas — em Cannes/2014 é, desde já, um dos títulos nucleares de toda a programação.