31 Ago 2014 1:08
O talento de Al Pacino enquanto realizador já foi reconhecido, na edição de 2011, quando o festival entregou o prémio Glory to The Filmaker, pela realização do filme "Wild Salomé".
O seu estatuto em Veneza permite-lhe surgir agora em dois momentos, marcando as antestreias dos seus mais recentes filmes, em seleção oficial. Ponto comum a ambos: o ator está no centro da narrativa, num ato de representação quase solitário, lidando com problemas de envelhecimento, descrença no futuro, depressão.
Em "The Humbling", Barry Levinson adapta a novela de Philip Roth e Al Pacino interpreta um ator que desiste de representar porque é incapaz de decorar o texto.
É como se Al Pacino se visse no espelho. Com 74 anos há uma dimensão pessoal neste papel, que parece ter sido pensando para Al Pacino representar-se a ele próprio nesta fase da vida.
O resultado não é interessante, porque o ator parece estar num permanente exercício de citação das suas qualidades, demonstrando de forma muito evidentes que ainda está na posse de todos os seus atributos, num over acting constante para ser… Al Pacino.
Bem diferente é o que sucede em "Manglehorn", de David Gordon Green. A personagem de um homem solitário, assombrado pela memória de uma mulher que o deixou e que é incapaz de estabelecer um boa relação com o filho, parece ter sido pensada para Al Pacino prolongar os seus gestos e colocar a sua voz de uma forma natural.
O ator assume esta personagem amarga, que compromete o futuro ao lidar mal com a memória do passado, conseguindo o seu desempenho mais interessante em cinema desde "Um Domingo Qualquer" de Oliver Stone.
Este papel coloca-o na condição de favorito para o prémio de melhor ator no festival de Veneza. E com estes dois desempenhos tão pessoais, dificilmente Al Pacino deixará de ser um talento a considerar quando os membros da Academia em Hollywood escolherem os candidatos ao Oscar de melhor ator do ano.