18 Out 2014 22:07
O realizador francês Martin Provost tem demonstrado especial interesse em figuras "marginais" do mundo das artes. O seu título mais recente, "Violette" (2013), sobre a escritora Violette Leduc (1907-1972), é um bom exemplo. Mas terá sido com "Séraphine" que ele levou mais longe esse seu gosto por universos em que a criatividade se esconde (e revela) de forma tão peculiar quanto fascinante.
"Séraphine" é o retrato de Séraphine Senlis (1864-1942), criada de um alemão, coleccionador de pintura. De facto, ela ia desenvolvendo uma actividade mais ou menos secreta, como pintora, até que o seu patrão a descobre, insistindo em revelá-la ao mundo. Marcada por problemas psicológicos que a fazem passar por um asilo psiquiátrico, Séraphine não deixou, por isso, de produzir uma obra invulgar, num contagiante registo naïf.
O trabalho de Provost consiste menos em "explicar" Séraphine e mais em revelar os contrastes da sua misteriosa personalidade. Não estamos perante uma mera biografia determinista, mas sim face a uma viagem através de um labor criativo que, afinal, parece desafiar qualquer explicação racional. Trunfo fundamental do filme é a composição de Yolande Moreau na personagem da pintora — transparente e também impossível de classificar.