13 Nov 2014 19:24
Na oitava edição do Lisbon & Estoril Film Festival, o simpósio internacional ‘Ficção e Realidade: Para Além do Big Brother’ surge enquadrado por um ciclo de filmes em que, justamente, a vacilação entre o que acontece e a maneira como se narra o que acontece ocupa um lugar decisivo. Em que ficção vemos, ou julgamos ver, a realidade?
O clássico, afinal hiper-moderno, "Blow Up" (1966), de Michelangelo Antonioni, surge como um dos momentos decisivos desse ciclo, além do mais podendo simbolizar o período das "novas vagas", na década de 60, em que os limites da figuração cinematográfica foram sistematicamente discutidos por alguns autores, em contextos de produção muito diversificados.
As relações que se estabelecem entre o fotógrafo Thomas (David Hemmings, na interpretação mais emblemática de toda a sua carreira) e os outros, a começar pela personagem de Jane (Vanessa Redgrave, notável como sempre), fazem vacilar todas as certezas — incluindo as certezas do espectador.
A história da fotografia que, ao ser ampliada (blow up), parece revelar um acontecimento perturbante transfigura-se, assim, numa tragédia interior — tragédia do conhecimento e tragédia da matéria. No limite, Antonioni filmava um mundo que, na ilusória transparência da sua evolução consumista, começava a perder a paixão pela identidade humana. O medo que tudo isso faz não se desvaneceu.