7 Dez 2014 17:01
Quando vemos, agora, essa maravilhosa história do crescimento de uma criança, contada por Richard Linklater no filme "Boyhood", não podemos deixar de lembrar que o cinema possui uma galeria admirável de retratos da infância e da juventude. Um dos mais intensos está ligado aos tempos fundadores da Nova Vaga francesa — foi em 1959 e o filme dirigido por François Truffaut, "Os 400 Golpes", ficou como símbolo universal das alegrias e tristezas do crescimento.
Jean-Pierre Léaud interptreta a personagem emblemática de Antoine Doinel. Enquadrado por uma família pouco consistente (disfuncional, como se diz agora), Doinel é uma criança que se afirma através de uma atitude de permanente rebeldia. A sua relação com as regras de uma escola esclerosada e académica é, por isso, no mínimo, pouco empenhada — e revela, afinal, uma sensibilidade delicada e comovente.
Consagrado no Festival de Cannes de 1959 com o prémio de melhor realização, "Os 400 Golpes" projectou de forma decisiva o nome de François Truffaut — e também, claro, o de Jean-Pierre Léaud. Mas foi mais que isso: projectou também o próprio conceito de uma Nova Vaga apostada em contar outras histórias e, sobretudo, em contá-las de maneira diferente. Afinal de contas, 1959 foi também o ano em que também se estrearam na realização Alain Resnais e Jean-Luc Godard, respectivamente com "Hiroshima Meu Amor" e "O Acossado".