19 Fev 2015 22:05
O tema clássico do cientista que ajuda a combater o inimigo através do seu saber especializado (explorado em "O Jogo da Imitação", com Benedict Cumberbatch) já foi explorado de forma magistral, por Alfred Hitchcock, em "A Cortina Rasgada", uma história de um tempo em que a Alemanha estava dividida pelo Muro de Berlim. No centro dos acontecimentos, surge um cientista americano que, numa viagem à Europa, parece apostado em fugir para a Alemanha de Leste, com isso surpreendendo a sua secretária, que é também a sua noiva….
De facto, as aparências iludem. E "A Cortina Rasgada", apesar de obedecer a um esquema policial mais ou menos tradicional, acaba por ser uma impressionante teia de mistérios e revelações, inocências e culpas — estava-se, afinal, em 1966: Hitchcock filmava as diferenças de dois mundos, as suas contradições e também as suas estranhas semelhanças, desse modo fazendo um filme capaz de desafiar as convenções correntes das intrigas políticas.
Como sempre com um apurado sentido de casting, Hitchcock inventava um par romântico que reunia dois talentos muito populares em meados da década de 60 — asssim, o cientista é Paul Newman que, na altura, já se tinha distinguido em filmes como "Vício de Matar" (1958), "Gata em Telhado de Zinco Quente" (1959) e "A Vida É um Jogo" (1961); a sua noiva é Julie Andrews, intérprete de títulos tão populares como "Mary Poppins" (1964) ou "Música no Coração" (1965). Através deles, Hitchcock mostrava que o policial podia ser também subtilmente, ironicamente romântico.