10 Mai 2015 19:38
Quando reencontramos agora Al Pacino num filme como "A Humilhação", dirigido por Barry Levinson, é inevitável pensarmos que a sua carreira cinematográfica preenche mais de quatro décadas. Alguns dos momentos marcantes da sua trajectória estão ligados ao realizador Sidney Lumet — "Serpico", uma produção de 1973, é uma referência modelar.
O filme baseia-se na história verídica de Frank Serpico, um polícia de Nova Iorque que, ao longo dos anos 60, foi descobrindo uma rede de interesses ocultos e corrupção no interior da própria força policial. Mais do que um retrato individual, esta é, por isso, uma viagem pelo interior de uma instituição — tudo filmado com a exigência e o rigor muito típicos de um certo realismo do cinema americano dos anos 70.
Todo o trabalho de mise en scène de Sidney Lumet consiste em definir um determinado ambiente social que reflecte um contexto de grande perturbação moral, sem nunca reduzir personagens ou situações a meros símbolos — nesta perspectiva, a composição de Al Pacino é absolutamente decisiva: ele expõe os estados de alma de Frank Serpico sem nunca perder de vista o drama de uma sociedade enredada nas suas contradições.
Na evolução de Al Pacino, "Serpico" foi um momento fulcral. Ele tinha-se revelado em 1971, com "Pânico em Needle Park", uma crónica da toxicodependência filmada por Jerry Schatzberg. Seguiu-se "O Padrinho", de Francis Ford Coppola, e "O Espantalho", de novo sob a direcção de Schatzberg. "Serpico" veio logo a seguir, confirmando a versatilidade do seu talento. Além do mais, para a história, ficou também a música de "Serpico", composta pelo grego Mikis Theodorakis.