14 Mai 2015 0:27
Não é condição obrigatória na definição do universo de um cineasta, mas é um facto que há autores que reconhecemos, desde logo, por certos temas ou arranjos narrativos — até mesmo pela distância (física ou simbólica) com que a câmra se coloca face aos autores.
O japonês Hirokazu Koreeda — distinguido em 2013, em Cannes, com o Prémio do Júri para "Tal Pai, Tal Filho" — é, obviamente, um desses autores. E o filme com que está em Cannes (o primeiro da competição oficial a ser apresentado à imprensa) pode servir de prova eloquente: "Our Little Sister" (também citado como "Umimachi Diary", título da novela gráfica em que se baseia) é mais uma belíssima viagem pelo universo familiar, sempre em íntima ligação com os elementos da natureza — o "túnel" de cerejeiras ficará, por certo, como uma das mais belas cenas deste festival.
O ponto de partida é singularmente sugestivo. Tudo se passa em torno de três irmãs, já jovens adultas, cujo pai se distanciou, quando abandonou a mãe e foi viver com outra mulher; no momento da morte do pai, quinze anos mais tarde, as três jovens contactam pela primeira vez com a sua meia-irmã, a "nossa pequena irmã" a que se refere o título inglês…
O mais espantoso do trabalho de Koreeda (que, mais uma vez, assina o argumento) é a sua capacidade de construir uma narrativa de muitos acontecimentos ligeiros, microscópicos, mas carregados de nuances e sugestões. Além do mais, há em "Our Little Sister" uma sensibilidade positiva, e pela positiva, que contraste com as facilidades niilistas do nosso tempo — sempre em nome de um cinema apaixonado genuinamente humanista e delicadamente feminino.