18 Mai 2015 0:59
Actriz e cineasta francesa, Maïwenn (n. 1976) deve muito da sua projecção ao impacto do seu filme "Polissa", distinguido com o Prémio do Júri na edição de Cannes/2011. Ela distinguiu-se, afinal, pela afirmação de um cinema colado ao quotidiano, alicercado num realismo à flor da pele que passa, no essencial, pelo elaborado trabalho dos actores.
O seu novo filme, "Mon Roi", prolonga a mesma lógica. Para narrar os altos e baixos, quase sempre dramáticos e convulsivos, do par formado por Georgio e Tony (sendo "Tony" uma mulher), Maïwenn aposta em criar uma sucessão vertiginosa de cenas que se distinguem por uma espécie de naturalismo compulsivo, aliás reforçado por uma montagem que se quer sempre acelerada e imprevisível.
O novo filme acaba por se distinguir pelas mesmas virtudes e, sobretudo, as mesmas limitações de "Polissa". Que é como quem diz: a certa altura, podemos questionar se aquilo que importa mais são as singularidades dos seres humanos retratados ou a exibição (tendencionalmente exibicionista) de um método de filmagem que, importa reconhecê-lo, se mostra tecnicamente muito ágil.
Na teia formalista de "Mon Roi", acabam por ser os actores a matéria fílmica mais interessante. Vincent Cassel compõe, num misto de ironia e crueldade, um homem que vive sempre no ziguezague das suas desorganizadas finanças. Mas o destaque vai para Emmanuelle Bercot, a mulher que experimenta no corpo (a começar pelo acidente que a atinge logo na cena de abertura) as contradições comportamentais do seu par — curiosamente, Bercot assina "La Tête Haute", o filme que, extra-concurso, serviu de abertura a este Festival de Cannes.