20 Mai 2016 1:47
Os diálogos são cortantes, agressivos, hesitantes, escondem os sentimentos
verdadeiros, servem de atalho para se evitar o assunto.
É assim que sucede no reencontro familiar que Xavier Dolan
filma em "Juste La Fin du Monde”. Louis (Gaspard Ulliel) regressa a casa
para dizer à sua mãe (Nathalie Baye), ao irmão (Vincent Cassel), à irmã (Léa
Seydoux) e à cunhada (Marion Cotillard) que tem uma doença terminal.
A família acolhe-o com um misto de satisfação e desconfiança, ele sente que
esteve demasiado tempo fora e que lhe falta espaço emocional para partilhar o
seu problema pessoal.
O sexto filme de Xavier Dolan adapta uma peça pessoal do dramaturgo francês
Jean Luc Lagarce, falecido em 1995, que
é um desafio para um elenco que reúne cinco grandes atores do cinema francês.
É um filme de confrontos verbais, com personagens que gritam, disparatam,
hesitam e que são incapazes de declarar verdadeiramente os seus sentimentos.
Dolan percebeu que o texto esconde o que vai no intímo destas pessoas e
aproximou a câmara, filmando em plano fechado, procurando captar o que fica
indizível. Cada frase corresponde a um plano exposto de um rosto e o filme é um
puzzle de olhares cruzados ou que se desencontram na voragem das conversas tensas.
Não há prémio de montagem no palmarés do festival de Cannes, mas se houvesse
estava encontrado o vencedor. Dolan ainda assim pode esperar pelo reconhecimento,
eventualmente na categoria de realização, dois anos depois de ter recebido o prémio do júri com "Mamã".
O jovem realizador canadiano – tem 27 anos, seis filmes e começou a filmar com 19
anos – não desapontou os que o consideram um prodígio do cinema de autor.