22 Mai 2016 1:47
Shahab Hosseini e Taraneh Alidoosti. São dois nomes para nós virtualmente desconhecidos que, como é óbvio, não associamos a nenhuma singularidade cinematográfica. E, no entanto, vale a pena sublinhar que são nomes de dois invulgares actores, protagonistas do novo filme do iraniano Asghar Farhadi, "Le Client" (competição).
Interpretam Emad e Rana, marido e mulher, subitamente confrontados com um problema de segurança no seu prédio que os obriga a procurar rapidamente outra casa para habitar. Na nova habitação, Rana vai ser agredida, abrindo-se uma crise que, além de obrigar a reavaliar todas as suas relações, se cruza com o facto de Emad e Rana serem dois dos intérpretes de uma encenação de "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller.
É um filme, de facto, sobre o teatro e a vida — ou, talvez melhor, sobre a vida e o seu teatro, de tal modo vamos sentindo e pressentindo como a relação com a verdade se faz através de muitas formas de encenação, mais ou menos conscientes. A tentativa de descoberta de quem agrediu Rana atrai, assim, os elementos recalcados, mesmo nas coisas aparentemente mais banais.
Farhadi prossegue o minucioso labor de desmontagem das relações dos casais que já encontrávamos em "Uma Separação" (2011) e "O Passado" (2013). Ele possui o olhar incisivo de um psicólogo, mas também o cepticismo de um filósofo que sabe que as nuances da verdade estão longe de ser automáticas ou transparentes. Dificilmente será um filme consagrado no palmarés, mas foi dos melhores que Cannes/2016 nos deu a ver.