10 Jun 2016 15:40
A edição 2016 do festival francês viu a Netflix e, sobretudo, a Amazon confirmarem a tendência registada em Sundance, no início do ano, onde a Netflix e a Amazon compraram 12 filmes, e na edição 2015 do festival de Veneza que pela primeira vez abriu as portas a "Beasts of No Nation", da Netflix.
A Amazon chegou a Cannes com direito de distribuição na América do Norte (que, lembre-se, continua a ser o maior mercado mundial) sobre cinco títulos da selecção oficial: "Café Society", de Woody Allen, pelo qual pagou $14M (ao mesmo tempo, Allen também está a desenvolver uma série de televisão para a Amazon); "The Neon Demon", de Nicolas Winding Refn ; "Paterson" e "Gimme Danger, de Jim Jarmusch ; e "The Handmaiden", do sul-coreano Park Chan-wook.
No mercado do filme, que decorre em paralelo, a Amazon desembolsou $3,5M pelo projeto "You Were Never Really Here" de Lynne Ramsay, um drama com Joaquin Phoenix que interpretará um antigo soldado que se dedica a resgatar vítimas do tráfico de mulheres; e "The Salesman" do iraniano Asghar Farhadi.
Ainda antes do início do festival tinha anunciado a compra dos direitos de "Peterloo", que será assinado por Mike Leigh – realizador britânico duas vezes vencedor em Cannes (melhor realizador em 1993 por "Naked" e Palma de Ouro em 1996 com "Secrets & Lies").
Em Cannes, a Neflix assegurou o filme vencedor do prémio Camera D’Or, destinado à melhor primeira obra do festival. “Divines”, de Houda Benyamina, é a história de uma jovem que tenta sobreviver à dura realidade de um gueto suburbano de Paris.
Da principal secção competitiva garantiu "Aquarius", do brasileiro Kleber Mendonça Filho. Outras aquisições incluem "Mercenaire", o novo projeto de Sacha Wolff, a história de um jovem da Nova Caledónia, no Pacífico, que desafia o pai e vai jogar rugby para França; o drama "The Day Will Come", do dinamarquês Søren Sveistrup, o mesmo da série de televisão "The Killing"; as comédias "Very Big Shot", do libanês "Mir-Jean Bou Chaaya"; e "Le Voyage au Groenland", do francês Sébastien Betbeder; e o thriller "Raman Raghav 2.0", do indiano Anurag Kashyap.
Entre os projetos ainda no papel, assegurou o thriller de ação "Wheelman", de Frank Grillo, o mesmo dos filmes de terror "The Purge".
Por agora, a Amazon joga apenas no tabuleiro norte-americano e tem tido o cuidado de não agitar a ordem estabelecida na indústria cinematográfica. Ou seja, continua a lançar os filmes nas salas de cinema dos EUA e Canadá e respeita as janelas de tempo acordadas entre estúdios e exibidores que garantem três meses de exploração exclusiva por parte das salas.
Estes detalhes fazem toda a diferença para Thierry Fremaux, diretor do festival de Cannes. Em declarações à Reuters, expressou de forma clara o que pensa: "A presença da Amazon é uma boa notícia porque o seu serviço de SVOD (serviço de video-on-demand por streaming) estreia os filmes em cinema antes de serem exibidos online. A Amazon é diferente da Netflix. São realmente produtores e distribuidores."
A Netflix, com a sua operação a nível mundial, parece mais ameaçadora e continua longe do coração de Fremaux, defensor acérrimo dos moldes tradicionais de distribuição e da ideia de que o cinema necessita de projeção em sala.
Mas a má vontade do diretor do certame francês pode pecar pelo exagero. Na verdade a estratégia de lançamento simultâneo em sala de cinema e online por parte da Netflix, só ocorreu com a produção própria "Beasts of no Nation", com Idris Elba. Os direitos de exibição em sala dos filmes adquiridos, tanto em frança como em Sundance, continuarão a ser vendidos pelos tradicionais agentes e a Netflix será obrigada a respeitar as janelas de tempo em cada mercado. Pelo menos, por agora.