5 Out 2016 15:35
Para alguns poderá ser uma revelação empolgante, uma descoberta quase mágica. Para outros (entre os quais me incluo), é, antes de tudo o mais, um reencontro com o paradoxo do tempo. É verdade: "Taxi Driver" já tem 40 anos (foi lançado em 1976) e permanece um fulgurante objecto de cinema, próximo das nossas emoções e também do nosso pensamento.
“Limpar o lixo das ruas” — dizia Travis Bickle, motorista de taxi, veterano da guerra do Vietname, contemplando a decomposição da sua bem amada Nova Iorque. Mais do que um retrato de uma mente também a decompor-se, "Taxi Driver" é um filme sobre a dor de uma América que já não consegue acreditar na mitologia dos seus heróis.
Contemplando-se no espelho, Travis Bickle falava sozinho, numa cena que há muito passou a fazer parte do grande imaginário cinéfilo. Robert De Niro talvez nunca tenha sido tão intenso e, ao mesmo tempo, tão vulnerável como neste papel — com ele contracenava uma menina talentosa que iríamos continuar a admirar; o seu nome: Jodie Foster.
"Taxi Driver" nasceu numa conjuntura muito particular de reconversão da produção americana, resultando também de uma reunião excepcional de talentos — ou de talentos excepcionais. Entre eles estava o autor da música, Bernard Herrmann, que tinha colaborado, entre outros, com Orson Welles e Alfred Hitchcock. Herrmann morreu a 24 de Dezembro de 1975 e já não pôde ver o filme concluído — "Taxi Driver" é dedicado à sua memória.