4 Nov 2016 1:13
Nascido na Áustria, em 1942, o escritor e dramaturgo Peter Handke tem a sua biografia cinematográfica indissociavelmente ligada à obra de Wim Wenders — como argumentista, o seu nome surge em títulos tão emblemáticos como "Movimento em Falso" (1975) e "As Asas do Desejo" (1987). Mas importa não esquecer que ele é também um realizador, pouco frequente, é certo, mas de notável sobriedade.
Na programação do Lisbon & Estoril Film Festival, será possível (re)descobrir alguns momentos fundamentais do trabalho de Handke, incluindo esse filme magnífico e raro que é "A Mulher Canhota", uma realização de 1978, protagonizada pela extraordinária Edith Clever que, dois anos antes, interpretara o papel principal de "A Marquesa d’O", de Eric Rohmer.
A sinopse de "A Mulher Canhota" tem tanto de linear como de "indecifrável": uma mulher separa-se do marido, fica a viver com o filho e todo o universo à sua volta parece envolvido numa teia de estranheza e agressividade… O certo é que, a partir de dados tão rudimentares, Handke vai revelando enigmáticas emoções em que, no limite, a protagonista testa a percepção da sua própria identidade íntima e social.
"A Mulher Canhota" constitui um belíssimo exemplo de um cinema que permanece interessado numa certa dimensão psicológica, nada psicologista, da sua própria dramaturgia. Quase 40 anos depois, é um objecto de uma tocante actualidade.
> Nimas, dia 5, 14h30 [cópia restaurada].