27 Jan 2017 19:37

Desde os seus tempos de símbolo da mais austera produção independente, Jim Jarmusch sempre foi um cineasta próximo dos sons e sensibilidades da música rock — por alguma razão, agora, com "Gimme Danger", ele propõe um retrato de Iggy Pop. O seu filme pertence, afinal, a uma tradição cinematográfica em que já vimos as mais lendárias figuras da música popular, a começar por Bob Dylan.



Uma das memórias que importa evocar é a do lendário "Dont Look Back", documentário de D. A. Pennebaker lançado em 1967 — lançado entre nós com o título simplista de "Eu Sou Bob Dylan", trata-se de um precioso documento sobre um tempo de muitas mudanças. Ou como a canção de Dylan proclamava: "The Times They Are a-Changin’".

Os tempos estavam, realmente, a mudar. Desde logo, na música, como é evidente: o filme de Pennebaker acompanha a digressão de Dylan em 1965, por palcos britânicos, digressão que entrou para a história como um dos momentos mais agitados da sua carreira — Dylan começou a integrar guitarras eléctricas nas suas performances e os puristas não gostaram. Além disso, o próprio olhar documental surgia com uma nova agilidade e imprevisibilidade — há mesmo alguns momentos incríveis em que podemos assistir a um outro tipo de performance, com Dylan a dizer ao repórter da revista “Time” que não precisa… da revista “Time”.

Vivia-se um tempo de muitas e convulsivas transformações marcadas pela emergência daquilo que entrou para a história como uma cultura de novos valores, isto é, uma contra-cultura. O filme de D. A. Pennebaker com Bob Dylan, e sobre Bob Dylan, constitui um símbolo perfeito desse tempo e pertence, há muito, ao domínio dos grandes clássicos.

  • cinemaxeditor
  • 27 Jan 2017 19:37

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