Nasceu e cresceu em Paris. Filmou em Trás os Montes. Cristèle Alves Meira não é um nome que os espectadores portugueses reconheçam mas é, claramente, alguém com um olhar muito peculiar e uma forma singular de filmar histórias portuguesas.
"Sol Branco" (inédito em Portugal) e "Campo de Víboras", as duas primeiras curtas-metragens da realizadora, foram rodada numa aldeia transmontana perto de Vimioso, a aldeia da mãe e onde Cristèle regressa todos os anos, habitualmente para passar as férias de verão.
Cristèle sente um fascínio pelas pessoas, pela paisagem e pela luz. E sobretudo sente interesse nas lendas, na mitologia, nas histórias de aldeia que impressionam pela dimensão fantasista e pela crueza dos crimes passionais. Quer atualizar esses contos poplares, criando uma narrativa contemporânea. Naturalmente interessa-lhe filmar este microcosmos social e aprofundar a dualidade cultural de quem cresceu entre dois locais.
Dividida entre França e Portugal, entre a identidade francesa assumida no nome próprio – Cristèle – e as raízes portuguesas que carrega no duplo apelido – Alves Meira – a realizadora está a escolher o caminho do cinema para se reencontrar.
"Campo de Víboras", que vai ser exibido no CINEMAX numa estreia absoluta na televisão portuguesa, é esteticamente francês e tematicamente português. É um filme sobre alguém que está preso no lugar a que pertence e onde vive, mas que tem vontade de fugir, de transgredir, de viver outra vida, noutro local ou país.
Essa mulher é Lurdes, interpretada por Ana Padrão, com uma intensidade dramática e realista que faz crescer a personagem para além do tempo da curta – queremos saber mais sobre Lurdes, queremos ver mais cinema de Cristèle Alves Meira, e essa é uma virtude da curta. Deixa-nos à espera do filme seguinte.
E Cristèle vai prosseguir. Nesta altura prepara a primeira longa-metragem "Alma Viva", que será rodada em Trás os Montes, um drama sobre uma adolescente de 15 anos que regressa a Portugal para passar férias na aldeia dos pais.
"Campo de Víboras" pode ser visto no CINEMAX Curtas depois de ter integrado a seleção da Semana da Crítica do Festival de Cannes e de ter sido exibido em quatro festivais portugueses: IndieLisboa, Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira, Caminhos do Cinema Português de Coimbra e Córtex em Sintra.