18 Ago 2017 18:03

Para várias gerações de espectadores, dir-se-ia que o cinema japonês começou em 1983, com "Feliz Natal, Mr. Lawrence", de Nagisa Oshima. Grande filme, sem dúvida, mas convém não confundir a visibilidade do mercado com a diversidade e a complexidade da história. Daí que seja tão importante regressarmos a Kenji Mizoguchi — apetece dizer que, na história do cinema japonês, ele é o mais clássico de todos os clássicos.

Para além das suas íntimas relações com a tradição japonesa, desde a literatura ao teatro Nô, Mizoguchi foi também uma figura decisiva na projecção internacional da produção cinematográfica japonesa. O seu filme de 1953, "Contos da Lua Vaga" [fragmento da edição Criterion], desempenhou, nesse aspecto, um papel decisivo — em 1962, na lista dos melhores filmes de sempre promovida pela revista inglesa “Sight & Sound”, figurava em quarto lugar, logo depois de "O Mundo a seus Pés" (1941), de Orson Welles, "A Aventura" (1960), de Michelangelo Antonioni, e "A Regra do Jogo" (1939), de Jean Renoir.



Tal como acontece em "Contos da Lua Vaga", um drama amoroso tendo por pano de fundo as convulsões do séc. XVI, a mise en scène de Mizoguchi combina muitas vezes a crueza trágica com um mundo povoado de medos e fantasmas. Isto sem nunca negar a possibilidade de um desencantado realismo social de que "A Mulher de quem se Fala", de 1954, pode ser um excelente exemplo.

Títulos como "O Conto dos Crisântemos Tardios" (1939), "O Intendente Sansho" (1954) ou "A Imperatriz Yang Kwei Fei" (1955) são, afinal, o produto de um genuíno formalista, no sentido mais puro: um cineasta que sempre apurou e depurou a relação entre forma e conteúdo — Kenji Mizoguchi faleceu em 1956, contava 58 anos; entre filmes mudos e sonoros, deixou uma obra de quase uma centena de títulos.

  • cinemaxeditor
  • 18 Ago 2017 18:03

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