14 Out 2017 21:54
Em 2017, o extraordinário “Detroit”, de Kathryn Bigelow, leva-nos a evocar uma verdade tantas vezes esquecida. De facto, Hollywood tem uma tradição plural de cinema político e, muito em particular, de análise das tensões raciais e das manifestações do racismo na sociedade dos EUA. Vale a pena recordar uma referência de 1989 que, em boa verdade, já é um clássico — chamou-se em português “Não Dês Bronca”.
Escrito, realizado e também interpretado por Spike Lee, o filme parte da figura de Mookie, precisamente a personagem assumida por Spike Lee — em Nova Iorque, na zona de Brooklyn, ele é um empregado negro de uma pizzaria de um branco, interpretado por Danny Aiello: o seu dia a dia, monótono e repetitivo, vai ser abalado por confrontos induzidos pelas diferenças raciais. Curiosamente, uma das entidades marcantes daquele universo é a rádio; sendo o seu apresentador interpretado por Samuel L. Jackson.
Spike Lee é, antes do mais, um realista: as diferenças sociais existem, o racismo existe — e o seu filme é, primeiro que tudo, uma constatação do estado das coisas num microcosmos pleno de ressonâncias simbólicas. O voto “não dês bronca”, consagrado pelo título português, não é fácil. Ou como diz o título original, trata-se de saber como fazer as coisas certas — “Do the Right Thing”.
No plano musical, vale a pena lembrar que o álbum de “Do the Right Thing” foi um invulgar sucesso de vendas, de tal modo as emoções do filme passavam, e muito, pelas canções. Entre os participantes na banda sonora estavam ainda, por exemplo, Al Jarreau, os Public Enemy e Teddy Riley — eis Teddy Riley, na companhia da banda Guy, cantando “My Fantasy” .