23 Mar 2018 17:07
Chama-se Luca Gudagnino; nasceu em Palermo, na Sicília, em 1971, e é um dos nomes grandes do actual cinema europeu. Com prémios ou sem prémios, o seu “Chama-me pelo Teu Nome” ficou como um dos grandes acontecimentos na viragem de 2017 para 2018. Importa, por isso, recuar até 2009 e lembrar o filme que o projectou internacionalmente — chama-se “Io Sono L’Amore”, “Eu Sou o Amor”.
“Eu Sou o Amor” centra-se nas atribulações de uma mulher de origem russa, casada com um grande industrial italiano. Interpretada pela brilhante Tilda Swinton, ela vai ser o pólo central de uma teia dramática em que o poder do dinheiro se cruza com as pulsões amorosas. Talvez possamos definir “Eu Sou o Amor” como uma história a meio caminho entre a crónica familiar e a parábola social.
As peças musicais, em particular as canções, são elementos fundamentais do cinema de Luca Guadagnino, surgindo muito para além da banal função de pano de fundo sonoro: são verdadeiros elementos dramáticos, essenciais na definição de ambientes e na caracterização de personagens. Aliás, neste caso, não há nenhuma incompatibilidade entre Elliott Smith e, por exemplo, Maria Callas — é mesmo da ária “La Mamma Morta”, da ópera “Andréa Chenier”, de Umberto Giordano, que provém a expressão “Io Sono l’Amore”.
Todos estes cruzamentos de canções ditas populares e composições ditas eruditas são um excelente sintoma da abrangência do cinema de Luca Guadagnino. Ele é um criador que procura novas sínteses, novas contaminações, entre géneros e narrativas, em ziguezague do melodrama à tragédia.