5 Abr 2018 0:47
Com a sua composição em “The Florida Project”, Willem Dafoe obteve uma terceira nomeação para um Oscar, ainda e sempre na categoria de melhor secundário — já tinha sido nomeado por “Platoon”, em 1987, e “A Sombra do Vampiro”, em 2001. De qualquer modo, o primeiro filme que o definiu como um actor capaz de enfrentar os mais extremos desafios dramáticos surgiu em 1988, tem assinatura de Martin Scorsese e chama-se “A Última Tentação de Cristo”.
Seja como for, “A Última Tentação de Cristo" persiste como uma excepção na trajectória de Dafoe. De facto, é pouco vulgar que ele assuma o papel central, definindo-se antes como um secundário capaz das mais espantosas transfigurações. Assim aconteceu, por exemplo, em “Estrada de Fogo” (1984), de Walter Hill, “Viver e Morrer em Los Angeles” (1985), de William Friedkin, e sobretudo em “Um Coração Selvagem” (1990), neste caso com todas as marcas de David Lynch.
Sob a direcção de Lynch, Dafoe é o inquietante Bobby Peru. Depois, vimo-lo nas convulsões de um “thriller” como “Perigo Imediato” (1994), ao lado de Harrison Ford, nas ambiências românticas de “O Paciente Inglês” (1996), dirigido por Anthony Minghella, ou ainda nos cenários assombrados de “eXistenZ” (1999), o conto futurista de David Cronenberg. Ele é mesmo capaz de dar voz a Gill, o peixe de riscas pretas e brancas que é o chefe do aquário em “À Procura de Nemo” (2003).
Neste momento, a filmografia de Willem Dafoe já ultrapassa uma centena de títulos — é um caso exemplar de alguém que vai arriscando experimentar os projectos mais insólitos, por vezes mais arriscados, surgindo com o mesmo à vontade em produções dos grandes estúdios ou em pequenos projectos independentes. Um exemplo extremo, e fascinante, poderá ser o “Pasolini” (2014) que filmou sob a direcção de Abel Ferrara — dois americanos, actor e realizador, a revisitarem a herança de um grande cineasta italiano.