Vincent Lindon filmado por Stéphane Brizé: no coração das lutas sociais

16 Mai 2018 23:54

Curioso paradoxo, o do cineasta Stéphane Brizé: por um lado, é autor de uma das mais brilhantes adaptações literárias que o cinema francês produziu neste século: "A Vida de uma Mulher" (2016), segundo Maupassant; por outro lado, dirigindo o actor Vincent Lindon, tem assinado alguns títulos fortemente empenhados em expor as tensões sociais e laborais do noso tempo.

O exemplo anterior, "A Lei do Mercado" (2015), esteve em Cannes e valeu a Lindon o prémio de melhor interpretação masculina. Agora, outra vez em Cannes, de novo na competição oficial, a dupla Brizé/Lindon regressa com "En Guerre", agitado relato da luta dos trabalhadores de uma fábrica que tentam impedir o seu fecho, com os patrões a considerar que o "mercado" assim o impõe…



Aquilo que em "A Lei do Mercado" era uma elaborada ficção, trabalhada como se fosse uma reportagem, transforma-se, agora, num dispositivo repetitivo e redundante. Infelizmente, Brizé tende a ceder a essa facilidade que consiste em criar momentos de grande agitação (das imagens e das palavras), menosprezando o trabalho específico sobre as personagens — o caso do dirigente interpretado por Lindon é significativo: o tratamento da sua vida privada vai-se mesmo transformando numa frágil pontuação dramática, esgotada num "simbolismo" fácil sobre a persistência da família.

Provavelmente, muitos verão em "En Guerre" uma expressão exemplar do actual contexto de reivindicações (sociais, políticas, de género) em que, por mais que custe reconhecê-lo, se tornou mais fácil criar alarido do que, realmente, pensar a dura complexidade os problemas em jogo. Em resumo: um filme carregado de boas intenções, com pouco cinema para partilhar…

  • cinemaxeditor
  • 16 Mai 2018 23:54

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