6 Jul 2018 19:32
Foi em 1962 que Joseph Losey dirigiu "Eva", filme que adaptava um romance de James Hadley Chase centrado numa mulher de Hollywood, de moral duvidosa, capaz de perverter a suposta estabilidade do universo masculino. O cartaz original do filme definia-a como “o oitavo pecado mortal”. O papel central pertencia a Jeanne Moreau e a música tinha o toque inconfundível de Michel Legrand.
No filme de Joseph Losey, o jogo masculino/feminino era vivido por Jeanne Moreau e Stanley Baker — tratava-se, afinal, de um quadro de sentimentos e emoções bem típico das convulsões morais da década de 60. Agora, no novo "Eva", de Benoît Jacquot, baseado no mesmo romance, temos Isabel Huppert e Gaspard Ulliel num insólito frente a frente — dir-se-ia um exercício de manipulação para saber quem conhece, ou quem domina, o desejo do outro.
Ambos os filmes têm assinatura de autores relativamente marginais. Benoît Jacquot é um dos grandes individualistas do actual cinema francês, com uma filmografia consolidada ao longo de quatro décadas; Joseph Losey era, na altura, um exilado, uma vez que tinha abandonado os EUA a partir do momento em que foi inscrito na “lista negra” de Hollywood e se tornou alvo das perseguições maccartistas.
Talvez possamos dizer que aquilo que aproxima estas duas Eva(s) separadas por 56 anos — 1962/2018 — é um profundo desencanto romântico. Ou, se quiserem, um romantismo que cedeu por completo ao desencanto existencial. Há na banda sonora do filme de Losey uma canção que o próprio Jacquot talvez não desdenhasse — chama-se “Willow, Weep for Me” e surge na voz mágica de Billie Holiday.