13 Fev 2019 18:20
Ao descobrirmos “Até à Eternidade”, o filme de Julian Schnabel sobre Vincent Van Gogh, não podemos deixar de recordar que o pintor holandês que viveu apenas 37 anos (entre 1853 e 1890) sempre foi um objecto de fascínio cinematográfico. Recordemos o exemplo recente do desenho animado de 2017, “A Paixão de Van Gogh”; ou o clássico de Vincente Minnelli, “A Vida Apaixonada de Van Gogh”, datado de 1956; ou ainda o filme que lhe dedicou o francês Maurice Pialat e que se intitula apenas “Van Gogh”.
“A vida é demasiado triste” — são palavras do Van Gogh de Pialat. Que é como quem diz: a pintura pode ser uma via insólita, porventura trágica, para lidar com essa tristeza, criando um mundo em que o jogo das formas e das cores talvez faça renascer uma dimensão humana, realmente humana, em que cada um possa encontrar a sua identidade.
Lançado em 1991, "Van Gogh" é tanto mais surpreendente quanto, sem seguir as convenções do retrato biográfico (longe disso!), consegue a proeza de nos fazer viajar pelo interior de uma angústia existencial apenas redimida pelo fulgor das formas artísticas. Nesse sentido, o “Van Gogh” de Pialat é um legítimo descendente do realismo cru dos seus filmes anteriores, incluindo “Aos Nossos Amores” (1983), com Sandrine Bonnaire, e “Sob o Sol de Satanás” (1987), com Gérard Depardieu.
“Le Temps de Cerises”, a canção que foi eternizada por intérpretes como Charles Trenet ou Yves Montand, é uma das melodias escutada na banda sonora de "Van Gogh". Eis uma ironia muito francesa, já que o intérprete da personagem de Van Gogh é uma figura mítica da música pop — nada mais nada menos que Jacques Dutronc. Ou como se revela um espantoso actor trágico cujas raízes estão nos tempos heróicos do “twist” e do “yé-yé” — vale a pena cedermos à nostalgia e recordarmos Jacques Dutronc 25 anos antes de filmar “Van Gogh”, ou seja, em 1966.