13 Mar 2019 18:37
O cinema de Hollywood sempre sentiu uma atracção muito especial, misto de fascínio e distanciação, pelo exercício do poder presidencial nos EUA. O filme “Vice”, sobre o vice-presidente Dick Cheney, com Christian Bale no papel central, é apenas a variação mais recente sobre um modelo que tem pontuado as mais diversas épocas e conjunturas de produção. Lembremos, por exemplo, "Young Mr. Lincoln".
Este é um momento emblemático do clássico dos clássicos sobre os presidentes americanos. Em boa verdade, tratava-se de uma espécie de pré-história de um presidente. Ou seja: “Young Mr. Lincoln”, entre nós chamado “A Grande Esperança”, é o retrato de Abraham Lincoln ainda enquanto advogado, em 1832, na cidadezinha de New Salem, no estado Illinois — a composição de Henry Fonda e a realização de John Ford definem a admirável herança ética, política e simbólica deste filme de 1939. Herança que reencontramos em 2012…
Em 2012, surgiu este outro Lincoln no filme de Steven Spielberg, com Daniel Day Lewis a interpretar de modo absolutamente genial o 16º Presidente dos EUA — e a ganhar o seu terceiro Oscar como melhor actor. Curiosamente, o “Lincoln”, de Spielberg, é uma excepção nas décadas recentes, já que a maior parte dos filmes se tem debruçado sobre presidentes do século XX, com especial destaque para Richard Nixon, directa ou indirectamente presente no recente “The Post”, também de Speilberg, no clássico de 1976 de Alan J. Pakula, “Os Homens do Presidente”, e ainda nesse tão esquecido “Nixon”, filmado em 1995, por Oliver Stone, com Anthony Hopkins numa notável composição pontuada pela música de John Williams.
Esta pequena viagem pelos filmes sobre presidentes, ou pelos filmes presidenciais (se assim nos podemos exprimir), não ficaria completa sem citarmos os retratos contundentes, sempre polémicos, assinados por Michael Moore. Primeiro, com “Fahrenheit 9/11”, sobre o pós-11 de Setembro e, em particular, a acção de George W. Bush — Bush, convém não esquecer é também a figura central de “W.”, outro filme, neste caso de 2008, assinado por Oliver Stone; entretanto, há menos de um ano, Michael Moore lançou o seu “Fahrenheit 11/9”, tendo como personagem central Donald Trump. Convocando como sempre algumas referências da grande música popular, Michael Moore incluía na banda sonora o cantor e rapper K’naan, recriando “God on Our Side”, um tema clássico de Bob Dylan.