21 Mar 2019 18:57
As histórias do velho Oeste americano não desaparecerem da paisagem cinematográfica deste nosso século XXI. Um exemplo recente dessas histórias, “Os Irmãos Sisters”, tem, curiosamente, assinatura de um francês, Jacques Audiard. O seu filme faz lembrar “A Quadrilha Selvagem” ou “O Vale do Fugitivo”, ambos de 1969, títulos que reviam os heróis do Oeste, agora com um misto de distanciação e ironia. Vale a pena, por isso, evocarmos "O Pequeno Grande Homem", um outro “western” da mesma família, produzido um ano mais tarde, portanto em 1970.
Little Big Man, o Pequeno Grande Homem — assim se chamava a personagem central, um branco que viveu muitos anos integrado numa tribo de índios e que, por isso mesmo, recebeu um nome índio. Dito de outro modo: este é um filme que revisita a mitologia do Oeste através de uma personagem em que se dilui a fronteira tradicional entre brancos e índios.
Era a época em que muitos formas artísticas americanas começavam a questionar o envolvimento militar dos EUA no Vietname. “O Pequeno Grande Homem” é também um reflexo disso mesmo, não explicitamente, mas indirectamente, refazendo e repensando as narrativas tradicionais sobre os massacres de índios por brancos — estamos perante um filme genuinamente político, no sentido em que nele se repensa o passado para interrogar o presente. Nele escutávamos o vibrante ritual do velho chefe índio, interpretado por Dan George, preparando-se para a morte.
“O Pequeno Grande Homem” tem assinatura de Arthur Penn, um dos grandes cineastas dos anos 60/70, ele que, três anos antes, realizara o clássico “Bonnie e Clyde”. A subtileza do seu filme faz com que nele possamos observar as convulsões internas de uma América sempre em ziguezague entre os valores do passado e os impulsos do futuro, a verdade material dos lugares e o apelo da dimensão divina.