19 Mai 2019 19:27
Acontece aos melhores… Mas talvez não esperássemos que o cineasta romeno Cornelius Porumboiu se perdesse nas rotinas de uma coprodução (com Franca e Alemanha) que tenta (com apreciável investimento técnico, há que dizê-lo) garantir os efeitos de um "suspense" mais ou menos tradicional, mas sem qualquer derivação consistente.
O filme que Porumboiu tem na competição de Cannes chama-se no original "La Gomera", porque é nessa ilha das Canárias que decorre uma parte importante da acção. Aliás, é aí que o policia Cristi (Vlad Ivanov) aprende uma linguagem ancestral em que as palavras são substituídas por assobios — o título internacional do filme é, aliás, "The Whistlers" (à letra: ‘Os assobiadores’).
Compreende-se que se trata de fazer o retrato "estilizado" de um tempo em que a fragilidade das relações e a perversão das ordens tradicionais (sociais e morais) marca tudo e todos. No fundo, Cristi emerge como símbolo incauto de uma decomposição de valores que ele vai viver na dupla condição de personagem e encenador.
Resta saber o que seria esta história se Porumboiu se tivesse empenhado mais nas personagens e menos num barroquismo (?) algo gratuito que, como alguns espectadores referiram, faz lembrar David Mamet… Faz lembrar… Mas não basta propor uma narrativa não linear para chegar a tal modelo. Compare-se com alguns dos seus títulos anteriores, por exemplo "12:08, a Este de Bucareste" (2006), "Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo" (2013) ou "Tesouro" e… veja-se as diferenças.