24 Mai 2019 0:03
O canadiano Xavier Dolan tem 30 anos, o que não o impede de, ao longo de uma década, ter sido uma presença regular no Festival de Cannes, aliás com múltiplas consagrações de diversas entidades. Na competição oficial, Dolan já recebeu um Prémio do Júri, com "Mamã" (2014) e um Grande Prémio, com "Tão Só o Fim do Mundo" (2016).
Infelizmente, parece haver uma relação perversa entre a acumulação de prémios e as qualidades dos filmes. Umas vezes surgindo também como actor, outras não, Dolan foi-se especializando num modelo de narrativa tão vistoso quanto formatado. Dir-se-ia uma espécie de "nova" psicologia dramática, outra vez dominante em "Matthias et Maxime", este ano na competição da Côte d’Azur.
A sinopse é necessariamente curta: Matthias e Maxime, interpretados, respectivamente, por Gabriel D’Almeida Freitas (actor canadiano, filho de pais portugueses) e o próprio Dolan, estão ligados por um amor intermitente; ao mesmo tempo, integram um grupo de amigos que funciona como uma espécie de tribo afectiva, em constante circulação de encontros, desencontros e festas mais ou menos etilizadas…
É verdade que há nos actores uma energia que gera alguns momentos menos banais. Mas tudo se passa como se houvesse nesta juventude ambiguamente festiva uma espécie de auto-condescendência militante. Seria interessante pensar os efeitos de tal atitude na própria vida social (não necessariamente em rede…) daqueles que inspiram estas personagens. Seja como for, fica de tudo isto um comprazimento moral e estético que leva Dolan a entrar num esquema de auto-citação, bem longe da energia de alguns dos seus títulos anteriores como "Amores Imaginários" (2010) ou "Mamã" (2014).