13 Fev 2020 19:07
A nova versão de "Mulherzinhas", assinada por Greta Gerwig, é a ilustração exemplar da vitalidade da relação tradicional do cinema com os grandes clássicos da literatura. De facto, o romance de Louisa May Alcott, publicado em 1868, tem sido objecto das mais variadas e sugestivas adaptações (e não só no cinema, também na televisão). Em qualquer caso, creio que podemos e devemos destacar a primeira versão sonora, datada de 1933.
Entre festas e rituais sociais, no seu mundo privado ou pressentindo as convulsões da Guerra Civil que estava a ser travada, as quatro irmãs March vivem as alegrias e tristezas da sua própria condição de mulheres — ou “mulherzinhas”, como diz o título.
Estamos perante um exemplo modelar da arte de um cineasta que, ao longo de uma carreira de 50 anos, saberia expor, com ternura e contundência, a complexidade do universo feminino. Na sua vasta filmografia, encontramos, por exemplo, "Casamento Escandaloso", em 1940, também com Katharine Hepburn, "Meia Luz", em 1944, com Ingrid Bergman, ou "Assim Nasce uma Estrela", em 1954, com Judy Garland — é ele George Cukor.
A música de Max Steiner, notável compositor de Hollywood, nascido em Viena de Áustria, é um símbolo perfeito deste cinema de muitas nuances emocionais. E podemos dizer que a sua herança ecoa na banda sonora que, agora, em pleno século XXI, encontramos na versão dirigida por Greta Gerwig: a música de "Mulherzinhas", 2019, rima com a música de "Mulherzinhas", 1933 — a sua assinatura pertence ao brilhantíssimo compositor francês que se chama Alexandre Desplat.