20 Mai 2020 23:24
Que pode fazer um espectador que tenha saudades de ver num grande ecrã um filme como, por exemplo, "Bonnie e Clyde"?… Se estiver no Japão, talvez não seja assim tão difícil…
Expliquemo-nos. Ao longo do mês de abril, as poucas salas de cinema japonesas que continuaram a funcionar geraram uma receita de 688 milhões de yens, o que, contas redondas, corresponde a uma quebra de 96% em relação ao mesmo período de 2019.
Em boa verdade, o mercado do Japão não é excepção: os efeitos da pandemia são dramáticos em todos os circuitos cinematográficos. Seja como for, não há dúvida que os distribuidores e exibidores japoneses estão a encarar com alguma originalidade a questão básica: que títulos programar para reabrir as salas (o que começou a acontecer no dia 12 de maio)?
Como seria de esperar, alguns sucessos recentes foram retomados. É o caso do oscarizado "Parasitas", e também de alguns fenómenos do anime, como "Your Name" (2016) e "Weathering with You" (2019).
Mas o que é francamente original é a aposta em grandes fenómenos do cinema do "passado", incluindo alguns títulos lendários com estatuto de superprodução.
"Bonnie e Clyde" (1967), de Arthur Penn, a tragédia romanesca do mais célebre casal de bandidos, com os magníficos Faye Dunaway e Warren Beatty, é uma boa hipótese. Ou um clássico absoluto do "western" como "Rio Bravo" (1959), de Howard Hawks. Ou ainda, recuando duas décadas, "O Feiticeiro de Oz" (1939), de Victor Fleming, apoteose do Technicolor e consagração de Judy Garland como star.
À sua disposição, os espectadores japoneses têm também, por exemplo: o épico "Ben-Hur" (1959), de William Wyler, um dos recordistas dos Óscares (11 estatuetas douradas); "A Leste do Paraíso" (1955), sublime adaptação de John Steinbeck, com James Dean filmado por Elia Kazan; ou ainda "West Side Story" (1961), obra-prima do musical, dirigida pela dupla Robert Wise/Jerome Robbins, cujo remake está a ser ultimado por Steven Spielberg.
Entre os filmes de culto de décadas mais recentes, surgem ainda "E.T., o Extra-Terrestre" (1982), de Spielberg, e "Os Condenados de Shawshank" (1994), de Frank Darabont.
Em resumo: um regresso insólito ao valor primordial da memória cinéfila. Que na sua origem esteja uma tão drástica situação da saúde colectiva, eis o que ninguém desejaria — seja como for, vale a pena reflectir, serenamente, na pequena lição comercial & cultural que assim chega do Japão.