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26 Abr 2021 14:44

Nascida em Pequim em 1982, a cineasta tornou-se a primeira mulher asiática a ganhar a estatueta com uma longa-metragem que retrata o quotidiano de modestos habitantes nómadas dos grandes espaços americanos. "Nomadland – Sobreviver na América" também ganhou o Oscar para o melhor filme e Frances McDormand recebeu o Oscar de melhor atriz. Um sucesso minimizado de forma quase absoluta na China. Nenhum grande meio de comunicação noticiou e a rede social Weibo (equivalente ao Twitter) censurou mensagens recentes contendo o nome do cineasta, ou o título da sua longa-metragem.

Em Xangai, cerca de 30 pessoas juntaram-se num pequeno bar para ver a cerimónia pelo You Tube. A transmissão em direto, organizada por um grupo de antigos alunos chineses da Universidade de Nova Iorque, que Zhao também frequentou, viu a rede virtual usada para rodear a apertada censura chinesa ser bloqueada durante duas horas. O organizador, também viu a sua conta no WeChat encerrada após ter elogiado à realizadora.

Muitas aplicações ocidentais, como o YouTube, estão proibidos na China, onde a Internet local é rigidamente regulamentada e censurada pelo regime do Partido Comunista. Só com recurso a serviços de VPN é possível contornar aquilo a que normalmente se chama de "Grande Firewall da China", numa referência ao conjunto de muralhas e fortificações que, durante séculos, protegeram o país da invasão externa.

"Chloe Zhao torna-se a primeira cineasta de origem asiática/chinesa a ganhar o Oscar de melhor realização", escreveu um popular blogger num post no Weibo que recebeu milhares de reações positivas, antes de ser censurado.

"O controlo chinês sobre a opinião pública é simplesmente alucinante. Depois da vitória de Chloé Zhao no Oscar, não há nem uma p… de uma linha no Weibo", disse outro utilizador indignado.

Os primeiros triunfos da realizadora, especialmente nos Globos de Ouro em final de fevereiro, atraíram elogios pela primeira vez, na China. Mas comentários que lhe foram atribuídos, a uma revista americana, em 2013, onde ela parecia criticar o seu país de origem, ressurgiram desde então, lançando uma sombra sobre o seu nome.

Em março, alguns utilizadores da Internet disseram que Zhao insultou a China e questionou a sua nacionalidade. O lançamento de "Nomadland" na China continental, previsto para 23 de abril, foi suspenso. Numa altura em que parece haver uma crescente onda de nacionalismo na China, e onde o Partido Comunista Chinês tem sido impiedoso a reafirmar o seu poder ao reprimir ondas de dissidência, primeiro em Hong Kong e agora em Macau, informações sobre "Nomadland" foram apagadas de plataformas de venda de bilhetes, sites sobre cinema e redes sociais e os reguladores chineses instruíram a imprensa local a não transmitir a cerimónia de entrega dos Óscares.

Esta segunda-feira trechos de vídeo onde Zhao aceitava o prémio de melhor realização publicados nas redes sociais chinesas serviram de pretexto para mais críticas. "Fiquei um pouco surpreendido por Zhao não ter usado o mandarim para agradecer", escreveu um internauta no Weibo. "Bong Joon-ho falou na sua língua nativa e luta pelo direito de falar coreano na arena internacional", acrescentou. Bong, realizador sul coreano, ganhou quatro Oscars no ano passado por "Parasite".

Apesar disto, o triunfo era conhecido por muitos na China graças a outra rede social local, o WeChat. A plataforma censurou artigos sobre Zhao na segunda-feira mas, mesmo assim, foram muitas as mensagens de congratulação visíveis entre os utilizadores.

"É um orgulho para os chineses (…). É muito raro uma mulher chinesa obter um Oscar", disse Yan Ying, um engenheiro encontrado nas ruas de Pequim, em declarações à AFP na segunda-feira.

"Acho que os filmes chineses vão melhorar em qualidade e que ela é um ótimo exemplo para os diretores chineses", disse Yuan Min, uma mulher de 38 anos que trabalha no setor jurídico.

  • CINEMAX com agências
  • 26 Abr 2021 14:44

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