15 Jul 2021 0:29
Para onde caminha, afinal, o cinema de Wes Anderson? A pergunta justifica-se face a "The French Dispatch", o seu filme concluído há cerca de dois anos que esteve programado para o Festival de Cannes de 2020 (que não se realizou), tendo aguardado para ser revelado este ano na Côte d’Azur.
A pergunta decorre, afinal, de uma dúvida difícil de esclarecer: estará Anderson empenhado em conceber cada filme como um objecto autónomo, com um projecto próprio, ou apenas a procurar imitar o que já consumou em títulos anteriores?
“The French Dispatch” é o retrato de um jornal americano assim chamado, tendo a sua redacção numa cidadezinha esquecida de França… Para lá da introdução e do epílogo, três histórias autónomas dão-nos conta do labor dos seus jornalistas, numa espécie de filme de “sketches” em que Wes Anderson explora o seu gosto por um cenografia muito particular, a meio caminho entre o teatro e a BD.
Aliás, logo nas primeiras imagens, o filme convoca outra referência: Jacques Tati. E se é verdade que podemos compreender e admirar essa ligação com a herança do mestre francês (sobretudo no tratamento da imagem como uma “pintura” global que integra diversas manifestações de outras tantas histórias), não é menos verdade que “The French Dispatch” possui o rigor asséptico de uma mecânica demonstração de versatilidade.
Tudo se passa como se Anderson procurasse, sobretudo, a repetição de um efeito de assinatura, transformando "The French Disptach" no seu filme mais "perfeito" e menos interessante… Sem esquecer, claro, que o seu elenco de luxo parece não pesar nos resultados finais: Benicio Del Toro, Adrien Brody, Tilda Swinton, Léa Seydoux, Bill Murray, etc.